Falta de jeito ou de instrumentos?!

Isto é o título

Muito recentemente a Assembleia Legislativa Regional realizou uma cerimónia solene pretensamente honrada com a participação do Presidente da Republica. Foi anunciada como a comemoração dos 45 anos de um outro acto solene no ano do início de trabalhos do parlamento regional. Creio que bem mais importante teria sido comemorar os 45 anos de ida do povo às urnas para escolher os deputados (27.06.76), ou o dia em que por direito próprio e legal os deputados eleitos realizaram a primeira sessão da Assembleia Regional (20.07.76). Naquele tempo, como hoje, o importante não são os convidados institucionais para a pompa, mas a existência do parlamento e o trabalho pioneiro que concretizou, desempenha e pode continuar a realizar.

Persiste-se em não convidar os deputados iniciadores dessa difícil tarefa. Claro que a pandemia não explica, pois infelizmente já não restam muitos dessa época e havia lugar para a todos albergar com distanciamento. Como também não faz sentido haver complexo com a presença deles, pois saberiam manter a discrição. Ou espera-se para morrerem todos e fazer depois uma sessão de evocação póstuma?!

Saiu-lhes um discurso de Marcelo, curto, ao contrário do habitual, cheio de lugares comuns e sem nenhum relevante sinal de apoio às pretensões de desenvolvimento da autonomia! Creio não exagerar opinando ter havido nos discursos dos parlamentares e do Governo, muito menos de comemoração e demasiado de reivindicação de novos poderes para a autonomia. Levou-se a legislatura passada a falar em alterações ao Estatuto Político-Administrativo, sem real consequência. É caso para dizer: “A luta continua”, mas o chapéu do slogan talvez não assente bem na cabeça de todos os protagonistas.

Por vezes vale muito mais a discrição da estratégia e muito menos a violência da luta. A melhor estratégia seria certamente a eficácia na exploração, até à exaustão, das potencialidades legais vigentes e assim gerar confiança e granjear prestígio autonómico regional, nacional e internacional. Bem poderia, hoje, dar aqui por reproduzida a reflexão feita sobre o assunto, no Igreja Açores, em 10.06.2016.

A autonomia permitiu a concretização de um património relevante de infraestruturas económicas, sociais e culturais. O próprio Presidente do Governo elencou um vasto conjunto de problemas persistindo sem solução. Parece haver falta de capacidade legislativa e executiva para lhes dar resposta.

Assim é legítimo a tantos assaltar a dúvida: há falta de jeito, ou de instrumentos estatutários e constitucionais?

Artigo publicado no site igrejaacores.pt

Perfil do Autor

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura.
Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores.
Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD.
Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores.
Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta.
Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional.
Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

Renato Moura

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura. Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores. Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD. Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores. Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta. Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional. Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

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