Coragem para ousar

Isto é o título

Todos nascemos com dons e com oportunidades de os usar e fazer render. Temos também defeitos que nem sempre sabemos ou podemos corrigir. Agimos em favor do bem, ou permitimos injustiça, por acção, omissão, tolerância.

Depois da morte realçam-se as virtudes e esquecem-se as falhas; como um acto de bondade, todavia sem pura sinceridade.

Aos homens públicos acontece de tudo. Sobre o mesmo agente político os correligionários realçam capacidades e virtudes, ou até as inventam; ao invés os opositores, alguns inimigos sem rebuço, apelidam as virtudes de manobras de campanha e as incapacidades como gestos de ruim consciência.

Para ilustrar esta realidade, conto-vos uma história. Um florentino muito conhecido e estimado, dentro e fora da ilha, infelizmente já falecido, contou-me, a bordo de um avião onde viajámos lado a lado, revelações na sequência da minha passagem a deputado independente. Havia um seu vizinho, militante ferrenho, infelizmente também já falecido, o qual, durante muitos anos, exaltara as minhas qualidades políticas até ao exagero. No dizer do meu companheiro de viagem: “só me faltavam as asas para ser um anjo”; segundo ele, depois da minha passagem a deputado independente: “só me faltava o rabo para ser um diabo”!

Para honrar a memória não é preciso exagerar. E há méritos que seria mais justo reconhecer em vida, como justa compensação; como também se deveriam apontar em vida as imperfeições, para ponderação e correcção.

Muitas vezes fica sem reconhecimento a coragem de agir, particularmente dos políticos, em certas circunstâncias, especialmente quando assumem uma decisão pessoal considerada de imperativo de carácter. Fazem-no principalmente por profunda convicção, mesmo encontrando oposição junto dos correligionários e dos amigos, agindo contra a corrente, decidindo de forma imprevista, contrariando a prática corrente e tradicional.

O falecimento de Jorge Sampaio, motivou um conjunto de merecidos louvores pelos cargos desempenhados, nomeadamente o de Presidente da República. Talvez tenha faltado realçar mais a profundidade, a sinceridade e a convicção das suas atitudes mais invulgares e controversas, como terão sido, porventura, a mudança de partido assumindo discordância de fundo, avanço do principal dirigente de partido para candidato a uma câmara municipal, candidatura à Presidência da República sem apoio inicial firme, dissolução da Assembleia e convocação de eleições vencendo oposição de partidos, incluindo o seu; e de amigos também. Demonstrações de coragem para ousar.

Artigo publicado no site igrejaacores.pt

Perfil do Autor

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura.
Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores.
Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD.
Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores.
Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta.
Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional.
Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

Renato Moura

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura. Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores. Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD. Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores. Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta. Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional. Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

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