“Crónica da Fajãzinha #11”

Isto é o título

José Fernandes, Maria Avelar,Jacinto Avelar, Maria Fortuna, Francisco Fortuna, António Custódio, Fátima Custódio, Verónica Eduardo, Manuel Furtado, Rafaela Furtado, Ema Furtado, Lúcia Custódio, Armando Custódio, Lurdes Henriques, Maria P. Eduardo, Ana Silveira, Maria Olívia Corvelo, José Henriques Custódio, Sidónia Cordeiro, José A. C. Freitas, Nélia Freitas, Joana Freitas, Isilda Corvelo, Maria Corvelo, Serafina Eduardo, António E. Eduardo, João Eduardo, Laura Belo, José Horácio Frade, Gilberto Frade, Angelina Frade, José Frade, Gorete Frade, Olga Costa, Elisabete Costa, Ricardo Freitas, Susana Freitas, José Eduardo, Luísa Eduardo, Sabine Reimer, José Gabriel Sampaio, Maria Olívia Baldes, José Horácio Castelo, Conceição Castelo, Diogo Cerqueira, Sara Maia, José M. Silveira, José Augusto Baldes, José Henriques Baldes e Maria Baldes. Meinhard e seu pai, Ross e outro casal sul-americano cujos nomes desconheço.

Foram os que acordaram a 1 de dezembro de 2021 na Fajãzinha. Se ninguém pernoitou fora de casa hoje, claro. Os que dormiram no sofá fazem parte da estatística.

 

2021 passou a correr. Eu, pessoalmente, corri 896 km, o que seria o equivalente para subir e descer o ramal da Fajãzinha todos os dias do ano. Só a ´Aninhas´ é que me consegue bater o recorde e nem o ´Chalana´ vira esse frango.

 

Foram as ´Crónicas da Fajãzinha´. Queria que ficassem registados aqueles que considero resistentes, habitantes que formam e perpetuam nas suas vivências um determinado lugar, a nossa especial Fajãzinha. Sinceramente, e sem culpar nem apontar responsáveis, prevejo que o cenário de desertificação se acentue cada vez mais. Na Rua do Canto, como em tantas outras, tardam a nascer os herdeiros do trono e as políticas de natalidade são indiferentes. Conheço casais que inclusivamente registam os filhos fora da ilha e nem beneficiam com eventuais regalias. Espero que a minha revisora não faça o mesmo. Eu avisei! A ilha está extremamente dependente de três ou quatro pessoas que fazem pão, de uma que coloca alumínios, de meia dúzia de construtores (alguns sem alvará para grandes obras). A dependência acentua-se na necessidade de execução e financiamento público a fundo perdido, de 17 restaurantes, 17! que pelos vistos não são suficientes... de um serralheiro, de técnicos que vêm de outras ilhas fazer trabalhos especializados como a desratização. São exemplos, inúmeros, que retratam um dia-a-dia que é de abandono. Afinal aponto um culpado: o tempo. Sinais dos tempos, para ser pomposo.

 

Por aqui percorremos as ruas, o desenrolar do dia, as distâncias. Abracei emocionalmente a minha mãe, dei-vos música e preguei-vos uma ligeira peta. Num registo que pretendi tornar leve, lisonjeiro e com alguma graça, pressinto que me tornei maçador, talvez com a extensão de tanta palavra seguida construída para um lugar que não é assim tão vasto. Ainda assim surpreendi-me pelos seis seguidores que todos os primeiros dias de cada mês faziam questão de ler esta escrita. Cinco, a minha tia não conta.

 

Durante o desenrolar de 2021 foram assinaladas, nas crónicas, algumas novidades e outras quantas dicas. No entanto, as poças continuam por corrigir nas estradas e o sinal de rede reforçado e a fibra só chegaram à Fazenda de Santa Cruz. Embora seja onde mora o chefe! Faz muito mais sentido que o Mosteiro, dizem as más línguas.

 

Da nossa climatologia os dados marcam que choveu deveras ao ponto de ribeiras e caldeira seca se transformarem em redutos de água abundantes e de senhor respeito. Esperávamos, talvez, um inverno frio, no entanto a água do mar a rondar os 19 graus convida ao mergulho de inverno em dias de altas pressões. Hoje foi um exemplo a papel vegetal. Continuamos a ser "fotógrafos" de nascer e pôr-do-sol. "Retratistas" de dia de barco, de qualquer fenómeno que por fugir à rotina ou que nos apraz a alma serve para registar a maior onda ou a aterragem da Sata com ventos de oeste. É um reforçar , um dizer presente no mapa do Atlântico, aqui!

 

A esperança e a resiliência são, contudo, as nossas maiores virtudes. Creio que qualquer florentino que se preze vai ter sempre em mente o melhor para a sua terra. Será assim, seguramente, com o açoriano das restantes ilhas. Exceção para o dirigismo do Santa Clara que está inquieto para descer à Segunda Liga ou para os mais céticos governantes da Região. Recentemente, em período de visita estatutária, ouvi de um dos mais altos cargos da autonomia alguém comparar a sustentabilidade ambiental que precisamos com o estrume do excremento das galinhas que o avô usava outrora nas suas culturas. Podia afirmar que a minha única indignação se dirigia aos jornalistas (de muito boa referência) que ouviram, como toda a plateia, e deixaram passar a aberrante e completa incoerência temporal de sua excelência sem dar nota ao seu público. A todos nós. Mas vou ficar calado. Maria Palmira, como todos os avós deste país, não têm culpa dos netos que foram à beira-mar plantados.

 

Como ontem me esqueci de atestar o carro, espero outras alegrias para o próximo ano como Portugal ser campeão do mundo de futebol! Só falta o play-off. Irra que o engenheiro parece estar a construir o Porto Comercial das Lajes cada vez que vejo a seleção das quinas a jogar. Que tormenta. Valha-nos o Corvo que já tem duas vitórias na Série Açores de futsal.

 

Entretanto a nossa ilha já tem uma bateria de nomeados para os óscares do desporto, do mar, da habitação, da saúde ou do ambiente... são grandeza, mais um do que os que estavam. Bom trabalho a todos e não se esqueçam da Fajãzinha! Por aqui precisamos de tudo um pouco, menos Multibancos. Para ATM basta-nos a máquina dos nossos vizinhos da Fajã-Grande, que embora esteja a maioria do ano avariada tem uma intensidade sonora para ordenar o levantamento de dinheiro que acorda as minhas galinhas na Fajãzinha.

 

Deixo-vos, ao final de 12 meses, com a expectativa que no próximo dia 1 de janeiro acordem a pensar que se "quer ler uma crónica e não se arranja". Seria uma lembrança positiva destas mensagens esporádicas. E quiçá, algures em 2022, possam surgir outros trabalhos, noutro género com outro tipo de preocupações. É tudo uma questão de números. O IBAN pode ser a solução (riso Patinhas). Este ano, que agora termina, ensinou-me muito pela sua dificuldade, pela abnegação, pelo sentimento ou falta dele, pelas perdas e pela união. A vida encarrega-se de nos ensinar tudo isso, de forma peculiar e à sua traiçoeira maneira.

 

No ano passado mostraram-me que não há problemas por si só. Que se encontrem primeiro as soluções. Em 2021 disseram-me que os privilegiados, como me sinto, podem fazer o que mais gostam. Concluída a síntese Chagas Freitas e sem mais demoras vos digo no nosso dia-a-dia, ou noite-a-noite, que "isto é muito melhor que trabalhar"!

 

Ânimo, saúde e dinheiro para os medicamentos!

 

31 dias até 2022.  

 

Fajãzinha, 1 de dezembro de 2021

 

Marco Henriques

 

 

 

 

PS. 9960-110. O último post scriptum não é um livro do J. Rodrigues dos Santos

 

Perfil do Autor

Marco Henriques, natural da Fajãzinha, nasceu em 1988 e é licenciado em Comunicação Social e Cultura.

Trabalhou enquanto jornalista no Diário dos Açores entre 2009 e 2011 e é Oficial de Operações Aeroportuárias desde 2012 na empresa ANA - Grupo Vinci.

Colaborou com o jornal “O Monchique” entre 2006 até à sua extinção e é desde 2017, ano em que regressou à ilha das Flores, Presidente da Direção da Filarmónica União Operária e Cultural Nossa Senhora dos Remédios.

Marco Henriques

Marco Henriques, natural da Fajãzinha, nasceu em 1988 e é licenciado em Comunicação Social e Cultura. Trabalhou enquanto jornalista no Diário dos Açores entre 2009 e 2011 e é Oficial de Operações Aeroportuárias desde 2012 na empresa ANA - Grupo Vinci. Colaborou com o jornal “O Monchique” entre 2006 até à sua extinção e é desde 2017, ano em que regressou à ilha das Flores, Presidente da Direção da Filarmónica União Operária e Cultural Nossa Senhora dos Remédios.

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