Era um dia de escola normal, cheio da euforia natural da adolescência. A casa de banho das raparigas enchia-se nos intervalos. Havia sempre uma que precisava realmente usar a casa de banho e as outras iam atrás em rebanho, de companhia.
Naquele dia a Sandra estava especialmente bonita, tinha uma saia xadrez curtinha, collants pretas de lycra bem brilhantes como eram moda na altura. Os cabelos longos caiam lhe pelas costas abaixo cheios de cachos brilhantes. Ela estava frente ao espelho a passar o lápis artisticamente nos olhos, a fazer o risco e o famoso “olho de gato” que nunca consegui fazer e que o meu pai também nunca deixou fazer naquela altura.
Gerou-se a conversa natural cujo tema era na maioria das vezes: rapazes. Aí a Sandra em tom de confissão disse: eu gosto do Zé, é mais velho, meus pais vão reclamar, mas vão ter de aceitar. Os olhos encheram-se-lhe de água. Era aquele sentimento doído, maturado, profundamente vivido. Um amor assim tinha de ser para durar! E dura! Mesmo quando o Zé esquece as bifanas a queimar ou distrai-se a fumar o cigarro, vê se o ar complacente da Sandra… (ai rapariga, tu és das rijas!)
No pátio ouvia-se o leitor de CD do Barrinhas. O famoso leitor de CD vinha também apetrechado com leitor duplo de cassete e radio. Era o delírio dos intervalos porque o som era partilhado com toda a gente. E toda a gente queria dar uma voltinha com aquele aparelho enorme, que hoje seria motivo de chacota destas gerações modernas dos iphones e ipads. Naquele momento tocava o Bed of Roses dos Bon Jovi. Os casais de namorados espalhados pelos cantos pararam os beijos para repetir “i want to lay you down in a bed of roses…”Que pancada. Era de chorar baba e ranho! A música dos anos 90 marcou toda a minha geração. Mesmo quando queremos gozar, dos cabelos, das roupas… epá não sei, dá me aquele nó na garganta.
Ainda pertenci ao Fan Club do Jon Bon Jovi! Eu e a Sandra Henriques!
Ainda não entrei neste capítulo da adolescência porque me falta alguma coragem. São tantas as personagens que podem surgir nestas minhas histórias. É que, raios, eu tenho boas memórias! Mesmo quando o mundo parecia desabar nos meus ombros e eu julgava-me a mais infeliz das criaturas… era tão doce e foi tão breve a adolescência!