Era o ano de 1990, turma B do 6º ano. Eramos uma turma, como se dizia na altura, turbulenta. Havia muitos rapazes e eram todos cheios de uma energia impar. Entre eles o meu irmão Noel, o Marco Machado, o Délcio Alves, o Délcio Cabeceira e o Milton. O dia estava sombrio e a aula de Educação Visual era com o professor David Prazeres: moço loiro, jovem, de olhos azuis que estava condecorado com o título de professor mais giro da escola naquele ano. A actividade para aquele dia era fazer carimbos com batatas. Cada um trouxe da sua casa o material necessário: batatas brancas cruas, guaches, pinceis, x-ato. A ideia era ser criativo, desenhar com o x-ato desenhos, símbolos, na batata que depois era usada como carimbo para marcar com tinta as folhas de papel cavalinho. Claro que isso podia ser giro, mas não para aquelas mentes pulsantes e irrequietas do 6ºB. Os moços não tiveram mais por onde inventar e começaram a atirar as escondidas as batatas janela fora para o terreno em frente, a ver qual lançava a batata mais longe.
O terreno em frente, propriedade do sr. Manes, recebeu todas as batatas daquela semeadura voadora. No entanto, nem era época de semear batatas e esse ato deixou o senhor deveras zangado e logo veio queixar-se ao executivo.
Resultado: quer o executivo, quer o pacífico professor David Prazeres mandaram os meninos “abusados” recolher todas as batatas uma a uma.
Foi giro observar com as minhas colegas os rapazes de baldinho na mão a colher as batatas retalhadas! Tenho a certeza que aquelas batatinhas teriam dado depois de se reproduzirem uma saca bem grande que o sr. Manes ainda teria agradecido. Acho que foi mal pensado!
Uma nota final especial ao meu amigo Milton, que já não está entre nós, que me ofereceu os lápis amarelos americanos mais giros que eu tive, que atirou as batatinhas para a terra do sr. Manes, que apimentou a comida da cantina da escola o que lhe deu direito a uma expulsão de dois dias, que era um miúdo traquinas do caraças mas que deixou-nos um vazio enorme e uma saudade imensa! Onde estejas Milton: foi um enorme prazer partilhar estas aventuras contigo! Um abraço até ao céu!