O primeiro automóvel do meu pai foi uma Ford Transit, cuja data de fabrico terá sido finais dos anos 70. Quando o meu pai a comprou a alguém do Lajedo, se não me falha a memória, a máquina já estava velhinha e cansada. Mas para uma família numerosa como a nossa, aquilo parecia um mini autocarro onde nos sentávamos todos confortavelmente e ainda conseguíamos levar muitas vezes os meus avós e tios. Para caber toda a gente, às vezes os mais novos iam na parte de trás sentados sobre a elevação da zona dos pneus traseiros que pareciam mesmo uns banquinhos para os nossos rabiosques de crianças.
O meu pai tentava fazer a manutenção do meio de transporte familiar, mas naquela altura encontrar material para um modelo tão antigo nem sempre era fácil e andamos muito tempo com o motor de arranque avariado. A garagem dos meus pais ficava abaixo do nível da estrada, resultado: meu pai saltava para o lugar do condutor e lá íamos todos para a traseira da nossa “princesinha do Agreste” empurrar para a trazer até ao cimo da rampa de entrada para apanhar a estrada e caminhar a descer para pegar de arranque. Bonito mesmo era eu e a minha irmã de vestidinhos de procissão agarradas a empurrar a toda a força, tal qual anjinhos poderosos! Claro que depois havia que estaciona-la nalgum sitio inclinado onde não nos deixasse ficar mal no regresso.
A “princesinha do Agreste”, era assim que carinhosamente apelidávamos a nossa carripana, porque na novela Tieta que passava na RTP naquela época, havia o sr. Jairo que tinha uma marioneta que levava os turistas para Santana do Agreste, cujo modelo se assemelhava à nossa.
Mais tarde nos anos 90 o meu pai trocou o nosso mini autocarro por uma Toyota Dyna, cabine simples onde só cabiam 3 privilegiados, o resto marchava na caixa numa capota de madeira construída para o efeito. Para os rapazes aquilo poderia ser uma aventura, para as miúdas da casa foi um trauma que ainda hoje nos acompanha de descer de vestidos de baile nas festas populares e os rapazes a verem nos naqueles momentos tão constrangedores! Isso para duas adolescentes, acreditem não foi nada fácil! Conclusão: que falta que nos fez a “princesinha do Agreste”.