O quê o como e o quando

Isto é o título

José Manuel Bolieiro, quando se organizou para ascender a Presidente do Governo Regional (ou já antes), presenteou-nos com declarações cheias de palavras invulgares. Vieram depois longos discursos com verdades universais, em buriladas frases. Usando uma expressão popular, dir-se-ia: «o homem tem boas falas».

Recentemente foi a grande entrevista do Presidente do Governo à RTP Açores: a esperança de ouvir coisas concretas. Falou de “mudança de paradigma”, “fazer prevalecer a autonomia”, “vontade de corrigir rumos”, “valorizar cada uma das ilhas”, “um sentido estratégico e um rumo”. Afirmou: “humildade do democrata”, “capacidade de ouvir”, “diálogo constante”, “cumprir com responsabilidade”, “disruptivo e reformador”, “antes excessivos na prudência que negligentes na acção”, “manter o que está bem e mudar o que está mal”, “reforma da autonomia”, “resiliência reincidente”…

Mais de dois meses de governo, à beira da apresentação do Plano de Médio Prazo e do Plano e Orçamento para 2021, voltou a entrevista a não permitir perceber quais as realizações, o que vai mudar, como se fará. E ao quando também se ouviu responder: “o mais depressa possível”! Continua-se sem perceber se virá algo de concreto do enigmático enunciado: “um governo não acomodatício, mas sim transformativo”.

Já o Programa de Governo não permitia perspectivar coisa substancial sobre o futuro. Tomemos, como exemplo, um dos problemas que afectam gravemente quase todas as ilhas dos Açores: o despovoamento. Considerando dados do Pordata, com estimativas anuais baseadas no INE, entre 2001 e 2019, o Pico perdeu cerca de 8% da população, as Flores cerca de 10%, a Graciosa cerca de 12%, S. Jorge cerca de 14%.

O termo “despovoamento” está referido apenas seis vezes no Programa do Governo, apesar das suas 141 páginas. E todas as alusões são inócuas e sem sinal perceptível do quê e como (Cf. págs. 22, 29, 31, 121).

E já agora, qual a substância desta tirada, transcrita dos dois últimos parágrafos: “Este programa de Governo não é de geração. É intergeracional. Não é de geografias redutoras. É dos e para os Açores. Para as nossas nove ilhas. Para os nossos 19 concelhos e 155 freguesias. Todos igualmente importantes. Em todos os tempos e em todos os lugares (…) Acreditamos nos Açores. Acreditamos nos açorianos. Acreditamos na nossa autonomia. Temos confiança no nosso futuro comum”?

Todos provavelmente ainda acreditam nos Açores, nos Açorianos e na autonomia.

Mas com palavras e quase só palavras, como confiaremos no nosso futuro comum?!

Perfil do Autor

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura.
Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores.
Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD.
Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores.
Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta.
Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional.
Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

Renato Moura

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura. Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores. Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD. Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores. Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta. Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional. Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

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