Hoje a história nem é bem uma história. É uma constatação. Como a ilha pode ser tão grande e de repente tão pequena. Cresci como já referi nas histórias anteriores em Ponta Delgada. O meu pai quando comprou o primeiro carro já tinha eu uns doze anos. Era a "princesinha do Agreste" como apelidamos a Ford Trânsit dos anos 80. Foi em jeito de brincadeira, devido à semelhança que tinha com a carrinha do sr. Jairo na telenovela da Tieta que havia passado recentemente cá. Muitas vezes era preciso empurra la pra conseguir tirar da garagem, mas a máquina sempre respondia aos nossos anseios. Depois de um arranque e duas goladas de fumo pelo escape, arrancava bem comportada. Antes dessa aquisição raramente saía da freguesia e a ilha era por mim desconhecida. Primeira vez que dei a volta à ilha e vi as lagoas e as freguesias foi na caixa de uma Toyota que os meus tios pediram emprestada a alguém para ir a família toda. Lembro me que almoçamos no restaurante "Pescador" na freguesia da Fajã Grande que pertencia ao meu primo João de Sousa.
Foi uma aventura e tanto nesse dia. Uma ilha enorme aos meus olhos de criança que só conheciam o percurso de Ponta Delgada/Santa Cruz. Como era bonito avistar a igreja da Fazenda, naquela viajem enorme de autocarro que me fazia enjoar, por saber que estava a chegar ao destino.
Mais tarde fiz esse percurso para a escola muitas vezes sem me aperceber. Mais tarde ainda, já a trabalhar, muitas vezes dizia que vinha em piloto automático, nem tinha noção de passar pelos lugares.
Hoje a ilha, corro-a de lés a lés, com uma noção tão clara da sua pequenez, da sua fragilidade, das suas limitações.
Fico a pensar se a criança se perdeu na ilha, ou se a ilha se perdeu em mim.