Não há Natal que passe que eu não recorde o presépio da igreja de São Pedro de Ponta Delgada, feito pelo sr. Zezinho. Quando ia a catequese, os meus catequistas negociavam o bom comportamento por uma visita ao presépio. Falava se que era o maior da ilha e era muito visitado. O sr. Zezinho era um senhor já com alguma idade, solteiro e dedicou a sua vida à igreja como sacristão. Antes do início da missa, a simpática figura com a sua opa vermelha começava a acender as velas dos três altares, lentamente, cuidadosamente para não verter nenhuma cera para os atoalhados que eram mantidos brancos imaculados. Do presépio recordo as inúmeras figurinhas representando quadros da vida rural e o cantinho dedicado a Belém e à famosa manjedoura onde nasceu o Menino. Recordo também o ar orgulhoso com que o senhor exibia a sua obra prima.
O meu presépio de casa pouco mais tinha que as figuras principais: a sagrada Família, o burro, a vaca, os três reis do oriente, sendo que um deles já tinha a cabeça colada com fita cola. O restante presépio era preenchido com soldadinhos de brincar do meu irmão ou outros brinquedos pequenos que tínhamos para encher.
Passados todos estes anos mantenho a certeza que o presépio do sr. Zezinho foi sem dúvida o mais bonito que eu vi até hoje.