“Histórias das Minhas Gentes #12”

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Tirar uma licenciatura há 30 anos atrás não era um sonho ao alcance de qualquer um. Nos lares mais abastados haviam já terras e bens a herdar, uma passagem de testemunho das posses dos pais para os filhos, por isso não havia uma educação nesse sentido, a não ser para algum filho macho mais franzino que não conseguisse aguentar a vida dura do campo. As filhas essas então eram educadas para o casamento e para gerir o lar e criar os filhos. Nas famílias pobres os filhos eram criados para servir os ricos. Alguns com a vontade que tinham de fugir à vida rural iam para os seminários e assim conseguiam seguir estudos.

Nesta história de hoje venho expressar não só a profunda admiração pelos meus tios avós como também pelos meus pais que lhes seguiram o exemplo. O meu tio Amaro (como era conhecido) era um homem pobre e simples. Vivia da agricultura e de servir os mais abastados. A sua mulher Celestina, irmã do meu avô António era uma costureira de mãos cheias. Muitas foram as mulheres que tiveram vestidos feitos pelas suas mãos habilidosas. Tiveram só um filho e já tinham os dois uma idade avançada para os padrões da altura. E desde cedo tiveram o sonho que o seu filho haveria de ser doutor. Trabalharam ambos de sol a sol para que ele tivesse a oportunidade de seguir estudos.

Um dia de verão a minha mãe vestiu-nos as melhores vestes, colocou-nos a mim e à minha irmã um ramo de flores nas mãos e disse nos: vamos esperar o primo José António que já é doutor. Era um primo do qual eu apenas tinha uma leve lembrança de o ver numa matança de porco da minha tia Filomena, uma vez que estava fora da ilha já há algum tempo.

Lá fomos nós para o Outeiro esperar o sr. Doutor da família. Saiu do carro de praça do sr. José Estácio um rapaz bem vestido e sorridente. Toda a gente lhe bateu palmas, oferecemos as flores e os pais abraçaram no muito emocionados.

Recentemente soube que quando a minha tia ficou grávida o meu tio Amaro atirou foguetes, daqueles que se lançavam pelos festejos do Espírito Santo.

O rapaz foi sem dúvida desde a nascença a maior e talvez única alegria da vida do casal que na sua simplicidade sabiam que a maior herança que lhe podiam deixar era a Educação.

Perfil do Autor

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012.

Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Maria José Sousa

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012. Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

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