Perplexidade corrosiva da justiça

Isto é o título

A chamada «Operação Marquês» iniciou-se com o público a assistir pela TV, com surpresa, à detenção de um ex-Primeiro-ministro. Mais de 6 anos depois volta à TV pela mão do Juiz de Instrução (JI) Ivo Rosa, ao resumir a decisão após instrução do processo. Duas acções e duas leituras, inteiramente opostas, sobre José Sócrates: aquela pareceu a sua condenação; esta por alguns tomada como a sua absolvição. Ambas erradas face à justiça!

A decisão do JI é legítima: ouvida mais de três horas surpreendeu o comum dos cidadãos; e isso não é despiciendo. A justiça é para ser entendida.

O Ministério Público (MP) acusara muitos arguidos e descortinara indícios de 189 crimes. O JI encontrou menos arguidos e indícios de só 17 crimes. Com espanto, pareceu o MP querer punir inocentes com crimes inexistentes ou prescritos. Em respeito pela justiça seria um assombro se um JI quisesse anular a indiciação de crimes e arguidos, ou se houvesse competição entre juízes. Seria igualmente estupefacto: se um JI acobertasse erros nas acusações do MP; ou se outro exagerasse na sobrevalorização da defesa dos arguidos.

Certas afirmações de Ivo Rosa e a adjectivação utilizada, inegavelmente causam perplexidade. Mancharão os procuradores, ou quem as proferiu; ou todos. Surpreende se se acreditar: haver diligências não realizadas, a acusação do MP primar pela falta de prova, ou de rigor; se for parcial e omissa; vaga e inconclusiva. É de pasmar se a acusação do MP fosse baseada na especulação e na fantasia.

Ao comum dos cidadãos, mas não só, pareceu tratar-se dum pré-julgamento. Ivo Rosa não se ficou pela legitimidade da sua visão das prescrições, mas ainda dos indícios. A dúvida sobre a irregularidade na distribuição de processos, não é simples espavento, mas pareceu querer meter-se o tribunal, em tribunal! E o que pensar dos obstáculos à tributação dos rendimentos ilegítimos?! E a subida valoração dos testemunhos de pessoas próximas dos arguidos? E sobre o quanto se exigiria para admitir influência do Poder político?!

Causa-nos perplexidade sentir a justiça abalada, ou concluir pela existência de problemas dentro do sistema. Mas não pode permitir-se o arrasamento do MP.

Temos direito ao nosso juízo.

Porém, ao contrário do que José Sócrates quer convencer-nos, ele continua acusado de crimes pesados. E o Tribunal da Relação apreciará o recurso do MP. O julgamento final isento acontecerá. Infelizmente demasiado tarde para travar esta corrosão da justiça, que, todavia, nunca poderá deixar em causa o estado de direito.

Artigo publicado no site igrejaacores.pt

Perfil do Autor

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura.
Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores.
Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD.
Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores.
Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta.
Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional.
Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

Renato Moura

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura. Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores. Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD. Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores. Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta. Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional. Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

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