Incongruências ou só surpresas?

Isto é o título

No tempo da «outra senhora» os cantoneiros das Obras Públicas tinham poder de fiscalizar os actos ocorridos nas estradas nacionais. O cantoneiro António (nome fictício) não perdoava se apanhasse um porco fugido do curral a passear-se na via pública, elaborava a participação e o dono do animal tinha de pagar a multa respectiva. Certa vez foi o porco do dito cantoneiro visto na estrada e o António tomou a iniciativa de participar do próprio António.

Talvez sem lógica, mas lembrei-me do António, quando recentemente se ouviu a intenção, do Presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, de abrir um processo contra o Presidente da Comissão Política Nacional do PSD.

Embora habitual, é pretensioso ouvir os treinadores de futebol a darem os parabéns aos seus jogadores, pelo facto de eles terem cumprido o plano definido para o jogo. Nunca se ouve os jogadores a julgarem publicamente os companheiros de equipa.

Certa vez pediram ao presidente de uma colectividade recreativa para explicar uma decisão da sua Direcção. Ele respondeu: não sei… eu só sou presidente!

Há poucos dias na Assembleia Legislativa Regional dos Açores ouvimos partidos tão coligados, já parecendo um partido de ideologia única; louvaram as iniciativas de cada uma das forças da coligação, como se fossem proponentes. E até tomaram como próprias as exigências dos partidos (que não coligaram, mas colaram) necessários à garantia de maioria.

Também se viu um partido considerando o Plano e Orçamento como sendo, no essencial, seguidismo da sua governação, mas votaram contra… pois o momento é outro.

Recentemente ouviu-se um Presidente de Governo a louvar as promessas governativas do seu Vice-presidente, dos seus Secretários e Subsecretário e a arrimado citar significativos excertos dos discursos destes.

Há perguntas lógicas e legítimas de quem ainda se preocupa com o futuro: Se nada de estrutural mudou, só dar mais é inversão de políticas? Não haverá, todavia, medidas importantes, mesmo se avulsas? Que membros do Governo satisfazem e quais decepcionam? Quem ultrapassa os limites do respectivo poder? Louvam-se todos os membros do governo para salvar algum, entretanto posto a arder? Porventura uns ainda não perceberam que são governo; e outros que já são oposição?

Na verdade, o povo tem o direito de estar atento, escrutinar, para entender tudo perfeitamente. Sem embarcar na demagogia, nem no populismo, venham de onde vierem. Percebendo e distinguindo as surpresas para distrair e as incongruências que matam valores da autonomia.

Artigo publicado no site igrejaacores.pt

Perfil do Autor

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura.
Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores.
Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD.
Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores.
Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta.
Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional.
Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

Renato Moura

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura. Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores. Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD. Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores. Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta. Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional. Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

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