Estamos a meados de novembro, o frio já se faz sentir e a proximidade com a época natalícia trouxe-me a inspiração para a minha história de hoje.
Na minha infância por esta altura iniciava se a azáfama das matanças de porco. Toda a gente tinha um animal no curral para encher de fartura esta época do ano. O sal era comprado à caixa porque a maior parte do "conduto" era salgado ou ia para vinhada, para depois derreter ou carne para linguiças para defumar.
Eu como criança ainda pouco ajudava nestas lides. A festa toda para mim era poder reunir com os meus primos e amigos e brincar com os brinquedos deles. Isto numa época em que as meninas ainda brincavam com as meninas em casa e os meninos brincavam com os meninos na rua. Lá de vezes em quando misturavam se um bocadinho até um puxar o cabelo a uma e lá eram enxotados e divididos.
Uma das coisas que me deixa saudades é o cheirinho da caçoila a cozinhar no caldeirão, o cheiro do sangue fresco das morcelas a serem enchidas e o feijão assado e as batatas doces a saírem do forno. Sempre fui um bom garfo desde pequenina.
A melhor "matança” que eu ia era a da casa da minha prima Emília porque era uma casa de quatro raparigas e só um rapaz, ora aí pode se dizer que me sentia nas minhas quintas, até porque a Maria Emília era praticamente da minha idade e brincávamos bastante.
Mais tarde quando a minha vizinha Florência teve a Beta também era uma festa ir à casa deles.
Outra recordação mesmo muito doce que tenho, nunca vou esquecer, aconteceu com uma amiga muito especial que já não está entre nós: Conceição Lourenço. Cresceu numa família pobre e numerosa como a minha. Um dia num regresso do liceu de autocarro, quando a barriga já roncava de fome, ela retirou da mochila uma sandes de torresmo. Os pais tinham matado porco na semana anterior. Partilhou comigo o seu papo seco com torresmo de carne lá dentro. Foi sem dúvida a melhor sandes que já comi até hoje. Carregada da ternura e da partilha que só com boas amigas se vive!