“Histórias das Minhas Gentes #9”

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Já aqui contei que na minha infância o pão predominante na mesa era o pão de milho. Falta me contar as recordações que tenho do processo todo até chegar ao pão e do qual ainda fiz parte.

O meu avô António tinha uma junta de bois muito bem ensinados. Guiados por ele lavravam os nossos pedaços de terra num abrir e fechar de olhos. Isto é como quem diz, na realidade se comparamos com as modernices de hoje, aquilo demorava uma eternidade e ao final do dia os pés estavam bem moídos das botas de cano. Pobres homens, pobres animais. O milho depois era semeado nos regos, coberto de sacho e quando começava a crescer era sachado e desbastado puxando a terra para o pé do milho para que pudesse crescer seguro. O excesso de plantação que era retirado ia para alimentar os porquinhos no curral. Quando as maçarocas já estavam vingadas e gordas era feita a desfolhagem que também era dada aos animais e servia para fazer cama nos palheiros. O dia da apanha do milho era quase uma festa como a da matança do porco. Reuniam se famílias e amigos para ajudar. A espadana estava desfiada e seca, em molhos para amarrar os cambulhões de milho para se pendurar no estaleiro. Poucas eram as famílias que não tinham um estaleiro à sua porta carregado de milho. A minha mãe ia tirando e debulhando para enviar para o moinho. Lembro me perfeitamente de levar uma moenda ao moinho do sr. Estrela que ficava na Ribeira dos Moinhos. O sr. Estrela era um homem alto e esguio e cara de poucos amigos. Isso assustava um pouco o meu coraçãozinho de criança. Mas houve um dia que esse medo foi se todo embora porque o senhor muito pacientemente explicou me todo o processo da moagem e do funcionamento daquele fantástico moinho de água. E eu era atenta a essas coisas e maravilhada fiquei. Anos mais tarde numas chuvas fortes que encheram as ribeiras, o moinho foi arrastado e desapareceu. Mas na minha memória ainda vejo a imagem tênue do sr. Estrela a despejar a farinha na minha saca de pano e a dizer: já levas farinha bem branquinha para a tua mãe fazer o vosso pãozinho.

Perfil do Autor

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012.

Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Maria José Sousa

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012. Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

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