Desde a última história que ganho coragem para entrar nas memórias da minha adolescência.
Hoje ao ver o Miguel sentado na esplanada do Trancador, com o seu ar descontraído e bem-disposto, lembrei-me que me deu aulas de Educação Visual. Devia ter uns 20 anos, era um rapazinho, no meio da rapaziada. O Miguel trocava a sala dos professores pelas escadas da escola onde o meu grupo de amigos passava os intervalos sentados entre a confusão das mochilas que eram para lá atiradas, muitas vezes amarradas por brincadeira umas às outras. O Miguel falava como nós, na nossa linguagem, ouvia os nossos dramas e entendia-nos. Uma das memórias que tenho do Miguel é de o ver a desenhar nas escadas e a Ana pediu para ele a desenhar. Ele riu se e disse que não sabia fazer isso. Dias mais tarde, surge com o desenho, o rosto dela a carvão numa folha de papel cavalinho. Uma verdadeira obra de arte! Confesso que roí um ciuminho daquele desenho, também queria um! Também queria que o Miguel me tivesse desenhado, mas não tive coragem de pedir, seria um abuso!
Com isto veio me uma vontade enorme de relembrar aos meus leitores os professores de quem guardo doces lembranças (especialmente aqueles que deram aulas sem as supostas habilitações… isto era tema para longos escritos!): o Rubem Silva (professor de Educação Física), o “Chico” (José Francisco Vasconcelos – Física/Química e Matemática), Florbela Vieira (Ciências da Natureza- Esta professora ganharia o prémio da mais perfumada da escola! Sabíamos que já vinha a caminho e ainda não se a avistava no corredor!), Nídia Mendonça (Educação Física – sentava-se nas costas do Edgar para ele conseguir fazer o sapo e ele a gemer de dor!), a Sara Nóia (Português – e responsável pela minha participação numa peça de teatro que marcou muito a minha adolescência), a Ana Paula Figueiredo (hoje Ana Paula Vasconcelos, por casamento com o “Chico”), acabadinha de chegar de Santa Maria, sempre tão bonita com as suas botas de pele castanhas pelos joelhos (Geografia- virou disciplina favorita dos rapazes, porque seria?), a nossa querida Armanda Banha com a sua roupa de cabedal e o seu ar jovial (História), a Linda com as suas lindas estrelas douradas ou prateadas, com que nos presenteava nas fichas quando tínhamos um Muito Bom ou Bom (Inglês), o João Jorge, único professor de Educação Musical que tive, numa época que só se aprendia música no 5º e 6º ano. Podes ficar descansado, que não foste o culpado de nunca ter aprendido nenhum instrumento musical, sou mesmo dura de ouvido! Mas pregaste-nos uns sustos sempre que o apagador ou um pedaço de giz voava pela sala! Hoje terias sérios problemas com os pais de alguns meninos! Mas nós, nós eramos rijos!
A escola é muito mais que a nossa segunda casa, os professores são muito mais que “pregadores da lição”, são personagens que entram na nossa vida num período que em que precisamos de exemplos a seguir e eu tive excelentes exemplos de companheirismo, dedicação, amizade, entrega, ensino. Encontrei em muitos dos meus professores verdadeiros amigos.