Quando eu era miúda o meu tio João era faroleiro no farol do Albarnaz em Ponta Delgada. Como praticamente toda a gente da freguesia, ele e a minha tia criavam o seu porquinho para matar pelo natal. Lembro-me de numa dessas "matanças" a minha tia Ilda estava cá com os meus primos e os meios de transporte eram poucos. Então a minha tia Margarida convidou-nos a mim e aos meus irmãos a dormir no farol. Ficamos a dormir no quarto das minhas primas num colchão no chão. Eu sempre tive dificuldades a adormecer fora de casa. Ainda hoje assim o é. Então com o barulho da casa das máquinas (que mantém o farol a funcionar) foi um problema. A minha tia sempre foi um doce de pessoa e veio explicar me que o barulho era normal, levou-me a visitar "a casa das máquinas" para mostrar o porquê do barulho. Tinha roupa lá estendida das minhas primas explicando que com o calor secava a roupa que até ficava quentinha. Isto numa altura em que nem se falava em máquinas de secar. Outro pormenor que me lembro do que era viver no farol é que os meus tios levavam garrafões de água da freguesia para beber. A água para o banho era retirada de uma cisterna... mais uma coisa que eu tinha pavor porque toda a gente me punha pavor com o raio daquele buraco fundo de onde retiravam baldes de água içados por uma corda.
Guardo doces lembranças desses dias no farol com os meus tios e as minhas lindas priminhas!