(Esta história foi publicada num blog pessoal que tenho em novembro de 2017. É uma escrita diferente das histórias que tenho escrito aqui. Para mostrar à Ana Monteiro que na realidade até fui escrevendo sempre umas coisas.😊)
À amizade e à adolescência
Depois de uma noitada a ler as “cartas de amor do Renato”, a folhear os álbuns de fotos antigas em que os nossos pais se vestiam de calças à boca de sino e as nossas mães exibiam fartas cabeleiras à sixties, a dar grandes risadas contidas para não quebrar o silencio da noite e não acordar os adultos no quarto ao lado e a segurar os olhos abertos naquela hora da madrugada em que o sono já insistia em nos derrubar. Partimos rumo ao porto de pescas para um desejado banho refrescante de mar para terminar o fim de semana em grande numa ode à amizade que nos unia!
Quando nos preparávamos para tal façanha ouvimos ao longe o chiar dos pneus do Renault 4 da tua mãe. Sem que ainda nos tivéssemos atirado à água, a nossa pele arrepiou se mas de medo e respeito para com a mãe irada que nos surgia pela frente e nos tratava como miúdas de 4 anos em altos berros. Meteu-nos no carro e lá fomos em silencio engolindo o orgulho, contendo a nossa rebeldia porque era preciso muita coragem para abrir a boca naquela hora!
Chegadas a casa fomos obrigadas a engolir uma tigela de cereais com leite e mandadas para o quarto dormir. Em escuro e em silencio demos as mãos, choramos e rimos ao mesmo tempo.
Tudo era tão belo e tão trágico naquela idade! Sentimo-nos heroínas e ao mesmo tempo aprisionadas à nossa pouca sorte.
Aquela noite tão divertida, aquele banho de mar tão desejado, tudo se fora água abaixo ao chiar dos pneus do Renault 4.
Era fantástico aquele carro!
Eramos fantásticas!