“Histórias das Minhas Gentes #16”

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A história de hoje é tão simples. Tão intimista. Tão pessoal. Mas espero conseguir fazer sentir um pouco dos aromas que me trazem esta memória.

Era um dia fresco de inverno. A minha avó Leonor disse: António, acho que vai chover, é melhor meter os garranchos para dentro.

O meu avô foi à rua, perto do curral dos porcos e trouxe às costas, por cima do ombro protegido por uma saca de serapilheira, um molhe grande de garranchos bem secos e estaladiços.

Os garranchos eram da faia que o meu avô debulhava para as vacas do palheiro e depois emolhava, amarrava com um fio de espadana e deixava a secar por cima do curral dos porcos. Depois de bem seco era usado para atiçar o lume para aquecer o forno para cozer o pão.

O meu avô encostou os garranchos ao pé do lar. Entretanto a minha avó já escaldava a farinha de milho. O meu avô trouxe a celha grande onde o pão ia ser amassado. Trouxe os tabuleiros de alumínio para untar para as bolachas.

Depois do forno bem quente, o pão tendido, o meu avô ajudava a minha avó a por no forno com aquela pá gigantesca com que a padeira de Aljubarrota deu umas palmadas vitoriosas. Entretanto amassaram uma bolachas mal ajeitadas, como eles diziam, porque tinham poucos ovos e pouco açúcar, mas levavam banha de porco que as tornavam deliciosamente tenras.

Que delicia aquele cheiro. A cozinha quente, o pão de milho quente, as bolachas a saírem do forno.

Aí o meu avô ia terminar o seu dia a ordenhar as vacas no palheiro e eu corria de caneca de plástico na mão. O meu avô depois de lavar o mojo da vaca, tirava leite diretamente para a minha caneca e eu deliciava-me a beber o leite cheio de espuma e a rir-me dos meus bigodes brancos.

As melhores sopas de leite, eram com o pão de milho a sair quente do forno, o leite acabado de tirar e um pedaço de linguiça frita em banha.

Foi tão doce a minha infância!

Perfil do Autor

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012.

Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Maria José Sousa

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012. Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

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