A história de hoje é tão simples. Tão intimista. Tão pessoal. Mas espero conseguir fazer sentir um pouco dos aromas que me trazem esta memória.
Era um dia fresco de inverno. A minha avó Leonor disse: António, acho que vai chover, é melhor meter os garranchos para dentro.
O meu avô foi à rua, perto do curral dos porcos e trouxe às costas, por cima do ombro protegido por uma saca de serapilheira, um molhe grande de garranchos bem secos e estaladiços.
Os garranchos eram da faia que o meu avô debulhava para as vacas do palheiro e depois emolhava, amarrava com um fio de espadana e deixava a secar por cima do curral dos porcos. Depois de bem seco era usado para atiçar o lume para aquecer o forno para cozer o pão.
O meu avô encostou os garranchos ao pé do lar. Entretanto a minha avó já escaldava a farinha de milho. O meu avô trouxe a celha grande onde o pão ia ser amassado. Trouxe os tabuleiros de alumínio para untar para as bolachas.
Depois do forno bem quente, o pão tendido, o meu avô ajudava a minha avó a por no forno com aquela pá gigantesca com que a padeira de Aljubarrota deu umas palmadas vitoriosas. Entretanto amassaram uma bolachas mal ajeitadas, como eles diziam, porque tinham poucos ovos e pouco açúcar, mas levavam banha de porco que as tornavam deliciosamente tenras.
Que delicia aquele cheiro. A cozinha quente, o pão de milho quente, as bolachas a saírem do forno.
Aí o meu avô ia terminar o seu dia a ordenhar as vacas no palheiro e eu corria de caneca de plástico na mão. O meu avô depois de lavar o mojo da vaca, tirava leite diretamente para a minha caneca e eu deliciava-me a beber o leite cheio de espuma e a rir-me dos meus bigodes brancos.
As melhores sopas de leite, eram com o pão de milho a sair quente do forno, o leite acabado de tirar e um pedaço de linguiça frita em banha.
Foi tão doce a minha infância!