Festa de Santo Amaro na minha infância significava uma semana inteira de limpezas gerais na casa. Na casa velhinha onde eu morava na Levada, o pátio era de pedra rola (pedra do calhau), criava musgo e nasciam ervas daninhas entre as pedras. Então era preciso arrancar as ervas daninhas, esfregar as pedras com uma vassoura de piaçaba e lavar com baldes de água. A minha mãe e a minha avó costuravam vestidos novos para mim e para a minha irmã, ou então estreávamos algum vindo numa última encomenda das Américas. O meu pai ia apanhar as primeiras batatas doces para comermos com a carne assada. A minha mãe cozia massa sovada e fazia pudim Boca Doce para a sobremesa de domingo da festa. Esses preparativos todos eram para receber os romeiros: familiares e amigos que iam de outra freguesias para assistir à missa e procissão e que se juntavam ao almoço. Muitas pessoas coziam bonecos de massa, ofereciam galinhas, peras, batatas doces, tudo para ser arrematado para o Santo. A procissão era a mais longa das festas da paróquia de Ponta Delgada. Chegou a ser acompanhada pela filarmónica da freguesia. Foi sem dúvida uma festa que marcou a minha infância e a de muitas gerações da freguesia e da ilha.