“Histórias das Minhas Gentes #1”

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Nem toda a gente da minha geração teve a sorte que eu tive de conhecer um bisavô. Eu conheci o meu bisavô Francisco Cabral, mais conhecido por Francisco Mariano. Não são muitas as memórias que tenho dele, mas são doces. A minha prima Celeste, sua neta, quando chegava do liceu ia buscar-me a casa. Pintava-me as unhas, fazia me tranças no cabelo e de brinde ainda atravessava o pátio da sua casa no Poleiro e levava-me a ver o bisavô. Lembro-me de lá chegar e pedir: avozinho toca pra mim. Ele tirava de trás do reposteiro de cima da sua banquinha de cabeceira aquele instrumento mágico (harmônica) que levava à boca e tocava. Era melodiosa a música que ele tocava pra mim. Não me lembro o que era, mas sei que adorava. Depois eu dizia avozinho agora faz aquilo com os dedos e ele rodava os polegares um à volta do outro rapidamente, para a frente e para trás e eu ria de emoção e tentava imitar e ria perdidamente. Ele dizia: se tu engordasses a rir! Depois ia ao bolso do seu casaco que pendurava num gancho na parede e da sua carteira muito velhinha e rota tirava uma nota de 20 escudos e dava nas minhas mãos de criança e dizia: dá à tua mãe para guardar. Hoje percebo que dividia a sua pobreza comigo.

Um dia, numa manha que recordo muito cinzenta, a minha mãe acordou me, vestiu me e enquanto abotoava os botões do meu casaco vi-lhe as lágrimas a cair e perguntei: mãe porque choras? Ela respondeu me: foi o avô velhinho que foi para o céu.

Eu tinha apenas quatro anos, mas as lágrimas rolaram me cara abaixo. Não ia ver mais o meu avô velhinho. Quem iria tocar para mim?

Hoje sei que tive um privilégio de poucos, guardo bem guardadinho o sorriso do meu avô velhinho que nunca esqueço.

Perfil do Autor

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012.

Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Maria José Sousa

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012. Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

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