Isto é o título
Oito badaladas. Começa o dia na Fajãzinha. Escrevo para todos vós no primeiro dia do mais pequeno mês do calendário gregoriano. Não se esqueçam que só tem 28 jornadas e que só daqui a três anos voltam a celebrar o seu aniversário os mais jovens de sempre do nosso modo de vida. Distintos “Peixes” do Zodíaco nascidos a 29, vejam o lado positivo: a literatura científica, até então, diz-nos que as estirpes que nos têm afetado são mais perigosas para os mais velhos e a julgar pelo número de florentinos vacinados no primeiro mês deste ano podem ter aqui um remédio do horóscopo.
E como nem todos somos afortunados do tempo (eu, por exemplo, atingi a idade em que Jesus Cristo viu de perto a malograda Cruz), o nosso sino segue o ritmo do momento. Repicaram as nove badaladas cinquenta minutos depois do nascer do sol. A alvorada não trouxe consigo esperanças ou tragédias na nossa pequena localidade, nem mesmo com a visita da décima tempestade desta temporada, a Justine. Estamos ainda escaldados com o primo Lourenço, e cumprimos o seu alerta. Desta feita a tormenta foi exigente, mas justa. Serviu para o jornalista da RTP vir fazer um estágio em intempéries. Sem estragos no final, menos mal. E sem querer repetir muito os versos de janeiro, parafraseando dois amigos da terra esperamos o mau tempo no modo “portas em automático”, mas “se tivessem mandado o Vasco é que era mau sinal”.
Pelas 10:00 lembro-me que a ‘Crónica’ que agora vos faço percorrer terá de ser enviada antes do ocaso. Ligo a máquina de escrever do Século XXI e transfiguro-me num dactilógrafo para estas humildes linhas na esperança que o sinal de envio, não sendo 5G, seja suficientemente forte para chegar a todos os Florentinos.(pt). Tristemente admito que a ´fibra´ na Fajãzinha apenas se vislumbra nos parcos homens do campo que labutam as suas movediças terras. Sou um grande consumidor de fibra, mas a maioria dos dias, um pouco mais cedo, ao pequeno-almoço (ou almoço - primeira refeição do dia na nomenclatura das gerações mais experientes por estes lados).
Dão-se as doze badaladas. A jornada segue a correr e o apetite torna-se rapidamente numa necessidade. Não, na Fajãzinha não trazemos para a mesa todos os dias ´o mais rápido tubérculo do mundo´, «o inhaameeeee» (releia a frase anterior sendo que no vocábulo “inhame” faça-o de forma rápida, uma espécie de Miguel Oliveira no Grande Prémio do Algarve). E aproveite para deixar escapar um sorriso. Hoje, o almoço a seu jeito é mais simples: sopa de Agrião. Tal como os inhames os agriões estão, no entanto, submissos à nossa água. E como as referidas culturas também os Moinhos precisam dela, deste abundante elemento da ilha. Na Fajãzinha temos dois Moinhos a carecer de uma revitalização e devida aplicabilidade. São privados, os moinhos, mas concertando o público e o senhorio seria possível fazer a parceria imprescindível para que se levante e não se deixe cair. Vejamos o exemplo da excelente recuperação na Ribeira do Pomar, em Santa Cruz, mas não percamos tanto tempo em obras pois não há `Crónica´ que dure tanto para ´levar a água ao seu moinho´.
Reproduzamos nesse caso as boas ideias para que no final do dia sejamos todos um, como o toque singular que entoado na sineira da nossa igreja identifica o desenrolar da segunda metade do dia. Um de fevereiro é também o dia do publicitário. Fica aqui introduzida a efeméride do mês. Mesmo nesta rigorosa época de inverno temos visto a publicidade do recanto em que privilegiadamente vivemos percorrer o mundo inteiro. Que assim se espalhe positivamente trazendo-nos o devido retorno em dias mais quentes.
Duas da tarde. O sino escutou-se agora menos vezes do que quando despertou, mas a esta hora não acordou ninguém pois não há sesta depois da refeição que intercala o dia. Aliás nem sexta, é segunda-feira e começando agora a semana coloquemos os nossos objetivos em cima da mesa e tentemos cumprir. De discursos estamos nós atulhados, queremos ver dos novos governantes decisões acertadas, no mínimo decisões. Como testar todos os açorianos, por exemplo. Urge.
Quatro vezes ecoa o sino. E quatro cruzes conseguiu o mais falado e tão discutido candidato das Presidenciais 2021 na nossa pequena localidade. No entanto foi Marcelo Rebelo de Sousa, esse sim, o Presidente da Fajãzinha. A sua votação foi superior aos 60%, mas é na abstenção ou falta dela que estamos de parabéns. Fomos a freguesia dos Açores com a menor taxa de abstenção (36,23%) no sufrágio do passado dia 24. Orgulhem-se, porque se é verdade que somos muito poucos por aqui, no top três do que que toca a ir às urnas só a freguesia da Praia do Norte, no Faial (com 62,84% dos votantes inscritos), e a Caveira (61,19%), também da nossa democrática ilha, estiveram muito perto da Fajãzinha.
Honras sejam feitas porque vamos ter novamente Sopas de Espírito Santo para todos os que descerem o quilómetro que nos separa da ´autoestrada para o Algarve´ da ilha. No Rossio os sorrisos escondidos pela indumentária do Covid (ainda de nariz ao vento para alguns com mais falta de ar) não vão esconder a ansiedade e preocupação do bem servir e a todos, sem exceção, satisfazer. Desta feita, esperemos que plenos sejam os tachos que seguirão para as respetivas casas! É já no próximo domingo (dia sete)! Porque vos falei na tal estrada que nos traz até aqui, nem a propósito tocaram as cinco badaladas e os pesados veículos continuam Rocha Branca fora a levar pedra da mesma cor da Ribeira Grande para a da Cruz. Esperemos que os buracos se fiquem pelas derrapagens do destino de tal trabalho e que a rota para a zona balnear permaneça imaculada por muitos anos. A suspensão dos restantes transportes ligeiros agradece e as idas ao Centro de Inspeções, por sinal a única forma de fazer filas e aglomerados nas Flores, também. É que ir à revista é como tentar mandar o bezerro para o exterior: difícil arranjar lugar no contentor. Este último ano, culpa do malfadado vírus, nem ´A Jangada´ nos brindou com a sua revista, lá está.
Meus caros, seis horas vespertinas. O último raiar cai nos céus de Ocidente daqui a trinta minutos.
O sino, esse, continuará a tocar, hoje até às 22:00, e tal como a vida segue hora fora.
Da Fajãzinha, um até março!
1 de fevereiro de 2021.
Marco Henriques
Marco Henriques, natural da Fajãzinha, nasceu em 1988 e é licenciado em Comunicação Social e Cultura.
Trabalhou enquanto jornalista no Diário dos Açores entre 2009 e 2011 e é Oficial de Operações Aeroportuárias desde 2012 na empresa ANA - Grupo Vinci.
Colaborou com o jornal “O Monchique” entre 2006 até à sua extinção e é desde 2017, ano em que regressou à ilha das Flores, Presidente da Direção da Filarmónica União Operária e Cultural Nossa Senhora dos Remédios.