São muitas as memórias de natal da minha infância. Lembro a bota de natal insuflável que enchíamos para colocar pendurada na janela. Os postais de Natal que recebíamos dos familiares emigrados decorados com purpurinas que ainda não se viam por cá. Às vezes recortávamos esses postais que tinham a figura do Pai Natal, de sinos ou de bolas decoradas para colarmos nos vidros da janela.
Na mesa de Natal havia o " luxo " das bolachas Tuchas, das Belinhas, dos chocolates 9ilhas. Havia uma garrafa de anis (aqueles galhinhos cristalizados dentro da bebida davam uma curiosidade de experimentar!!), havia a garrafa prateada de Ponche, bebida muito apreciada nas matanças de porco.
Em criança não me lembro da minha mãe fazer bolo de frutas cristalizadas, penso que não seria tradição cá ou então haveria apenas nas casas mais abastadas. Lembro-me de mais tarde surgir o bolo de figos que não maravilhava as crianças, pelos menos a mim não me maravilhava. Era no Natal também que a minha mãe fazia sempre o que chamávamos mortadela. Hoje mais conhecido por salame de chocolate.
Ainda escrevi cartas ao Menino Jesus, mas sempre com a noção que era pobre, que tinha nascido numa manjedoura.
Lembro-me de um Natal o meu pedido ter sido um diário. Sempre gostei de escrever. Vinha com aquelas folhas tão mimosas e perfumadas. Escrevi o até a última folha. Era o meu pequeno tesouro. Recentemente as minhas filhas tiveram vários (tornou se uma prenda barata e banal) e nenhuma delas deu valor ao seu significado.
Talvez por sentir o extremo consumismo desta época... Sinto imensa vontade de voltar ao passado onde tudo se resumia ao incrível prazer de desembrulhar uma Tucha, comer lentamente com o chocolate a derreter nos dedos, a olhar o pai Natal de purpurina colado no vidro da janela pequena e velhinha, esperando o Menino Jesus nascer na sua manjedoura.