Fez-se justiça à Ponta da Fajã Grande das Flores

Isto é o título

Em 18.12.1987 ocorreu um desabamento de materiais, provindo da rocha, o qual afectou a zona Norte da Ponta da Fajã Grande, na Ilha das Flores. O receio de ali viver assaltou as pessoas e levou à tomada da medida de declaração de alto risco, através do DLR 23/89/A (o qual me honro de ter votado), meio escolhido excepcionalmente para permitir dotar algumas famílias de meios financeiros para se instalarem noutras localidades.

Decorridos cerca de uma dúzia de anos sem outras derrocadas, estando a zona já reocupada por antigos residentes e novos pretendentes, foi o CDS/PP a tomar a primeira iniciativa de revogação do referido DLR, em 14.09.1998 (cujo projecto me honro de ter gizado). As grandes forças políticas da Assembleia Legislativa Regional não se mostraram então disponíveis para o aprovar.

Nunca foi entretanto possível consenso político para a revogação, mas a ocupação pacífica da Ponta, sem oposição, oficialmente consentida e apoiada, continuou a dar-se. Só em data relativamente recente um processo entrado em tribunal, cujos autores ou razões espúrias oficialmente se desconhecem – que no caso correu célere – visou cortar fornecimento de electricidade e água e interditar a ocupação das habitações.

Rola há muitos meses um processo legislativo visando, no fundo, revogar o DLR com mais de 30 anos. Na realidade não fazia sentido manter discriminada negativamente a Ponta da Fajã, perante inúmeras fajãs dos Açores. As leis são feitas para as circunstâncias de um tempo e só permanecem enquanto se justificam. As catástrofes noutros locais não levaram à interdição de ocupação.

Impõe a justiça reconhecer o especial empenho nesta iniciativa do Deputado Bruno Belo, do PSD. Outras forças políticas se lhe juntaram, com adesões, avanços, hesitações e recuos, ou iniciativas que pelo menos levariam a adiamento; porém agora não vale a pena esmiuçar, nem muito menos especular. O importante a realçar e louvar é que, com maior ou menor empenho, mais exuberante ou discreto entusiasmo, todos os deputados em votação final acabaram aprovando, por unanimidade, a revogação do DLR 23/89/A.

A Ponta da Fajã não será arrasada, nem se matará a sua história; o seu património pode ser conservado, recuperado, habitado, usufruído. O Governo olhará por aquele lugar, sem mais nem menos exigência ou empenho do que é seu dever para com todo o território. Fez-se justiça à Ponta da Fajã.

A política é a medida do possível; o possível não é o conforto da obediência, mas a medida da coragem; e sem esta não há bons deputados.

Artigo publicado no site igrejaacores.pt

Perfil do Autor

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura.
Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores.
Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD.
Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores.
Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta.
Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional.
Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

Renato Moura

José Renato Medina Moura, mais conhecido por Renato Moura. Nasceu na Horta, em 30 de Julho de 1949, mas sempre residiu nas Flores, onde foi chefe da Repartição de Finanças de Santa Cruz das Flores. Foi eleito deputado regional pelo PSD nas I, II, III e IV Legislaturas da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, tendo cumprido o último ano e meio de mandato como deputado independente. Foi presidente de diversas comissões parlamentares e vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD. Representou os Açores na Comissão Luso-francesa. Foi Presidente da Comissão Administrativa da Federação dos Municípios da Ilha das Flores e da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores. Foi Presidente da Comissão Diretiva Regional do CDS-PP e Vice-presidente do Partido nos Açores e membro eleito por este partido na Assembleia Municipal da Horta. Foi Diretor do Jornal “AS FLORES” durante mais de 32 anos e há mais de uma dezena de anos que é cronista com colaboração regular na imprensa regional. Foi presidente de várias coletividades desportivas, recreativas, culturais e sociais.

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