Desde pequena que eu e as letras temos uma relação íntima. Tudo começou com uma extrema curiosidade de as saber desenhar, unir, soletrar, formar palavras, faze-las dançar desajeitadamente numa folha de papel. Gritava o professor Luís: “Maria, essas letras vão levantar voo?”. Sempre tive uma péssima caligrafia. Para compensar comecei a ler com entoação e brio logo no primeiro ano. Aos seis anos era inscrita na Biblioteca Itinerante da Calouste Gulbenkian, com direito a cartão e tudo. Li de rajada todos os livros da primeira estante da colecção infantil e aos dez anos já tinha lido toda a colecção dos Cinco da Enid Blyton. Mas foi na adolescência que a paixão pela escrita se acentuou. Posso dizer que passei pelo meu período de poeta, de contadora de histórias, de amante das narrativas dramáticas e sempre assídua às escritas no meu diário.

Aos quinze anos fiz me assinante do Jornal “As Flores”. Aos dezasseis tomei coragem e mandei o meu primeiro poema para o jornal “As Flores”, que foi imediatamente publicado.

Também vivi o sonho de querer ser escritora. Numa adolescência conturbada de amores e dramas, tão próprios de uma mente inquieta de uma jovem que não saia da ilha e queria tanto ver o mundo.

Aos vinte e dois tive o convite para ser correspondente do Tribuna das Ilhas, infelizmente nessa altura a vida não me permitiu uma profícua colaboração.

Fui nestas andanças uma pessoa de sorte. Nunca fiz uma licenciatura na área, mas as oportunidades foram surgindo e eu fui sempre abrindo o peito e a alma, dando coragem aos desafios.

Em 2007 iniciei a minha aventura no Jornal as Flores, primeiro com o convite para sub directora e mais tarde abraçando o projecto que mantive até 2012, numa altura em que surgiu uma das maiores crises económicas que abalou as empresas locais levando à falta de publicidade, fonte necessária de rendimentos para a manutenção de um jornal local.

Há poucos anos tive o convite da Patrícia Carreiro para o projecto 9idazoresnews.

Recentemente o convite para correspondente da RTP Açores.

Não consigo desligar-me desta paixão da comunicação.

Não posso deixar de iniciar esta “viagem” sem fazer uma referência aos dois livros do António Maria Gonçalves, um lançado em 2019 pelo Município das Lajes das Flores: “Flores de outros tempos”. Um trabalho muito valioso de recolha de dados demográficos, culturais, de vivências da ilha que poucos sabem e cujo registo ainda não existia. Um trabalho cuidado e de grande valor histórico. O outro livro tem um sabor muito especial para mim: “Falquejos”, pequenas narrativas que se entrelaçam com as minhas “Historias das minhas gentes”. Não sou do tempo dos pés descalços, nem da fotógrafa que se deslocava a cavalo, mas vivi memórias doces e semelhantes com as do António Maria. Estou lhe muito grata pela sua partilha. A história das Flores, fica mais rica com estes seus trabalhos. Tenho ainda a dizer que até na escrita ele é um artista.

Este projecto do site Florentinos do qual me sinto também parte integrante, além de me envolver noutra missão para a comunicação social, veio devolver à ilha a capacidade de preservar os acontecimentos, os marcos, o presente e o futuro que queremos deixar às gerações seguintes. Registar e contar o que na ilha acontece é sem dúvida o melhor que podemos deixar aos que vierem atrás.

Conto então que este site seja um registo de cada um de nós. Das nossas vivências, das nossas histórias, das nossas opiniões e sobretudo uma herança aos nossos sucessores.

Regresso assim às letras, às Flores.