Ponta Delgada era uma das maiores freguesias da ilha. Já teve uma filarmónica, uma tuna, teve e mantém um grupo folclórico, teve e mantém um clube de futebol, teve e mantém um grupo de foliões (creio que chegou a ter mais que um) e chegou até a ter três agrupamentos musicais na mesma altura. Sempre fomos muito ricos culturalmente.
Uma das pessoas que ajudou em muito a "enriquecer" a freguesia foi um dos meus tios avós Herminio Alves, tio por afinidade por ser casado com uma das irmãs da minha avó materna: Ana. Lembro-me de o ver já com alguma idade na tuna, ensinou a muitos os seus saberes musicais, tocou também no grupo folclórico, em danças de carnaval e nas diversas festividades da freguesia.
Mas a sua arte não ficava pela música. Foi barbeiro também.
As barbearias naquela altura eram quase proibidas às mulheres, pois era aos sábados de manhã que o sr. Herminio abria as portas da sua barbearia e desfilava lâmina e tesoura com grande arte pelos cabelos e barbas dos homens da freguesia. E lá faziam as suas conversas de homens ao fim de semana.
Tive a oportunidade de o ver nesses afazeres quando muito "mãezinha" do meu irmão mais novo o levei a cortar pela primeira vez a sua juba de caracóis de bebê. Ele devia ter apenas uns dois anos de idade. O tio Herminio tratou o com grande pompa e circunstância, afinal de contas uma primeira vez a gente nunca esquece! Colocou um pequeno banquinho em cima da cadeira de barbeiro, sentou o pequenito que não mexeu com as orelhas e fez lhe um corte de cabelo à homenzinho, porque caracóis é para meninas!
Pode se dizer que fosse com a tesoura ou a dedilhar num bandolim o meu tio era um artista!