“Histórias das Minhas Gentes #42”

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Ontem cozi uma fornada de folares. Não devia dizer fornada uma vez que não cozeram todos de uma vez. O meu forno é eléctrico, só leva três folares de cada vez, para que tenham espaço para crescer sem se “beijarem” uns aos outros. Este ano eu tinha dito que não ia amassar, uma vez que com o Covid nem os posso andar a oferecer, porque a minha filha veio de férias e aguarda ainda o teste do 6ºdia. Mas não resisti. É uma tradição que está intrínseca em mim, como se ao não cozer os meus folares não houvesse Páscoa.

A minha mãe sempre fez um a cada um de nós em miúdos com um ovo escondido lá dentro e era o nosso pequeno-almoço no domingo pascal. Melhor parte era mesmo procurar o ovo e descasca-lo. Ele tinha uma cor meio acinzentada na clara, por ter ido a altas temperaturas no forno de lenha.

Há uma tradição de Quaresma, que se perdeu um pouco no tempo e que infelizmente eu não sei se sei fazer, mas um dia hei-de tentar. O milho inchado cozido com grãos de funcho. Sei que o milho era debulhado da maçaroca e colocado de molho em água até inchar. Depois levava-se a cozer e para que a casca se soltasse havia um processo que implicava cinza e um cesto de vimes, no qual o milho era lavado e esfregado para largar a casca. O milho ficava com o dobro do tamanho, branquinho, saboroso e muito tenro. Havia ainda quem o usasse depois para fazer refogado com linguiça, que dava um bom prato de almoço ou de jantar. Na casa dos meus pais sempre o comemos mais de petisco, ao natural. Sinto-me a salivar, só de lembrar o cheirinho do milho quente cozido e dos grãos de funcho que se trincava pelo meio.

Há ainda outra lembrança da minha infância: quinta-feira santa era dia de sopa de funcho, isto porque dizia-se que Maria (mãe de Jesus), havia mastigado funcho… e por essa razão nesta época estão especialmente doces e tenros. Procurei no Google algum facto realmente histórico que mencionasse isso, mas não encontrei. Fica então assim: diziam os antigos que… o funcho era doce na quaresma.

Amêndoas… como fazíamos render um saquinho delas. Primeiras lembranças que tenho, é de me dizerem que eram ovinhos de melrinho. E o meu cérebro dava um nó. Até porque já tinha visto ninhos e os ovos de passarinhos eram mesmo azulados, bonitos, minúsculos. Mas ovo que dava pássaro, era como ovo que dava pinto, tinha que ter clara e gema, como faziam os ovinhos de melro ter esta camada espessa de açúcar?? Raios, sempre a enganar as crianças! Eu confesso que eu era especialmente ingénua!

Perfil do Autor

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012.

Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Maria José Sousa

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012. Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

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