“Histórias das Minhas Gentes #39”

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Há dias atrás lembrei-me de uma história da minha infância.

Quando fui viver para a casa nova, na rua das Casas de Baixo, passei a ser vizinha dos meus avós paternos. Eram, como a maioria dos idosos que conheci na época, praticamente analfabetos. Para ajudarem aos pais, desde novos, abandonaram a escola. O meu tio João é que respondia por eles às cartas dos meus tios emigrados. Quando o meu tio foi viver para São Miguel a minha avó falou com a minha mãe que estava sem ninguém para lhe fazer isso e a minha mãe como sabia que eu era uma “desenrascada” nas escritas perguntou-me se os queria ajudar. Então mais ou menos uma vez por mês eu sentava-me na sala dos meus avós a ler a correspondência recebida e a dar resposta às missivas. Eu ganhei a prática e no final já sabia tudo o que os meus avós queriam contar, e quando lhes lia as cartas no final eles concordavam sempre com tudo. Eu fazia um esforço para fazer a caligrafia escolar, nada de modernismo de letras “à máquina”, porque os meus tios não iam perceber.

Os blocos de cartas eram daqueles com linhas sem margens, linhas fininhas azuis e a capa do bloco por norma tinha um avião desenhado. Os envelopes eram azuis também, com uma margem colorida de azul e vermelho e creio que no canto superior direito vinha um “por avião”. Os selos eram comprados na loja do Sr.º João Caldeira, uma lambidela na parte de trás que trazia cola pronta a ser humedecida resolvia a colagem no envelope. Depois ia colocar-se na caixa do correio colocada à entrada do mesmo comércio.

A minha avó queria sempre recompensar-me e dava-me uma notinha para o meu mealheiro.

Uma coisa que a minha avó Amélia partilhava comigo, porque sabia que eu adorava, era a sua revista Cruzada. Aquele minúsculo livrinho tinha sempre uma mensagem bonita, uma história comovente, palavras cruzadas… para a “pobreza“ de acesso à cultura que se vivia na altura aquele livrinho para mim era um verdadeiro luxo.

Perfil do Autor

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012.

Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Maria José Sousa

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012. Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

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