Tive a sorte de crescer numa freguesia pequena, que nos anos 80, 90 ainda tinha pouco transito e confesso que não me lembro de ver por lá em miúda a PSP ou a Guarda Fiscal como na altura era denominada.
Então pode se dizer que vivi umas aventuras, digamos que muito pouco “legais”, mas que me deixaram experimentar a adrenalina que não pude viver de outra forma uma vez que parque de diversões só nos filmes na TV.
Tinha eu uns dez e o meu irmão uns onze anos e não tínhamos uma bicicleta. Mas na garagem o meu pai arrecadava o “castalho” de uma moto Casal cujo motor teria sido usado para peças para outra da mesma marca. Dizem que a necessidade apura a criatividade e foi isso mesmo que aconteceu. O castalho velho e enferrujado virou uma bicicleta improvisada. Tinha os pneus em condições e o assento era confortável. Por sorte os travões ainda travavam qualquer coisa, o resto a sola do sapato aparava. Então sentávamos nos, um de cada vez e lá íamos de cabelo a esvoaçar ao vento a deslizar até ao largo do porto. Depois para cima? Para cima era a força dos braços e das pernas a empurrar. Por solidariedade um ia sempre ajudar o outro nessa missão. Muitas foram as vezes que deslizamos naquela moto estrada abaixo e a empurramos de volta a cima. Sem capacete, sem cotoveleiras, sem joelheiras…”ao menino e ao borracho põe Nossa Senhora a mão por baixo!”
Uma das outras aventuras rodoviárias por assim dizer, foi a bordo de uma moto cultivadora com atrelado. Quando abriram a estrada das Lombas, viramos preguiçosos e não queríamos subir e saltar paredes para chegar às tapadas do meu pai, então o meu irmão ia de condutor da moto cultivadora e eu ia de pendura agarrada ao atrelado para não saltar fora com os saltitos que aquilo dava na estrada. De volta a baixo a máquina era muito lenta, então o meu irmão, condutor experiente e corajoso desengatava as mudanças e aquilo era um tal andar. Às vezes eu tinha que me baixar para baixo e agarrar de unhas e dentes à beira do atrelado para não ficar pelo caminho. Confesso que só há dias contamos esta aventura ao nosso pai e ele ainda pôs aquele olho arregalado a fingir se zangado, mas com o canto da boca a contorcer se para rir e a pensar: “estes diabos têm bem a quem sair!”
Mais para a frente já pudemos conduzir a Casal verdadeira, aquela com motor e tudo. Tinha uma grade cor de laranja (de cerveja) fixa na traseira para servir para transportar coisas ou para guardar o capacete velho cuja fivela não apertava bem (hoje tem de ser um capacete homologado e tal…). Atenção só havia um capacete para dois passageiros, um safava-se o outro… olha…havia de ser o que Deus quisesse!
Nessa moto o meu irmão deu-me umas aulas. Mas dei lhe um susto do caraças, quis fazer acrobacias a acelerar e trepar a barroca de uma parede na zona da Castelhana. A partir daí o Noel passou a ocupar o lugar do condutor e eu fiquei para sempre de pendura. Maldito acelerador que me pregou uma partida… epá aquilo era muito sensível!