“Histórias das Minhas Gentes #33”

Adicione aqui o texto do seu título

(Continuação dos manuscritos da sra. Fátima Henriques)

 

" Oh nobre dono da casa

Venha ouvir o meu recado

Levantai vos, vinde ouvir

Novas do primeiro do ano.

Adeus oh dono de casa

Adeus amigos senhores

Muito lhes agradecemos

Seus delicados favores.

 

No final as pessoas davam laranjas, figos, bolachas, alguns trocos, que no final era repartido por todos os meninos que faziam parte da ronda. Belos tempos, tínhamos tão pouco e éramos felizes sem o sabermos.

Isto foi há 70 anos quando comecei nestas andanças.

Sei a música tradicional.

Dos adultos durante a noite a primeira ronda que participei foi com os meus pais, amigos e família, tinha cinco anos e morria se não fosse com eles.

Minha mãe era a trovadora. O coro era assim:

 

Cantemos todos em coro

Cantemos com alegria

Já nasceu o Deus menino

Filho da virgem Maria

 

Assim fomos de casa em casa. Minha mãe tocava bandolim e nalgumas casas bailavamos a chamarrita, era um mar de alegria.

Isto foi há 71 anos, meu Deus como já sou velhinha!

Aqui as pessoas abriam as portas, serviam licores, vinho do Porto, figos, regelos (aqui sra. Fátima, peço que nos explique do que se trata, algum doce? Ou percebi mal a palavra??). Naquele tempo era assim.

 

Eu ainda sei esta música:

Os três reis do oriente

Sonharam sonharam bem

Sonharam que era nado

O Deus Menino em Belém.

Aceitai disseram eles

Os três reis do oriente

Ouro incenso e mirra

Que vos trago de presente.

A cabana era pequena

Não cabiam todos três

Adoraram o Menino

Cada um por sua vez.

 

Depois passaram se muitos anos, as coisas pararam, a vida era outra e o tempo mais escasso.

Mas um dia saímos do ensaio da capela da igreja e eu disse: vamos cantar os anos bons. Havia um médico francês e a filha cujo nome não me recordo, que ficaram logo contentes por ir. Fomos cantar aquilo que me lembrava a casa do Sr. Padre Vitorino, do Sr. Presidente da junta Chico Melo, D. Celina, e pouco mais, pois foi tudo rápido. Lembro estes tempos com saudades. Isto deu ideia a junta de freguesia que em 1984 fez um encontro de rondas, tivemos a nossa e ficamos em primeiro lugar. Mas o lugar não interessa, é preciso é avivar.

O rei preto graças ao Sr. Francisco Soares, sempre houve, ele nunca deixou perder. Ponta Delgada também uma freguesia que sempre fez as suas rondas. Tenho muita pena das tradições se perderem porque pode se inovar e acho muito bem, mas não perder o princípio do fio do passado que nos leva ao presente."

Sra. Fátima, eternamente grata por esta partilha. Ficamos todos mais ricos!

Perfil do Autor

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012.

Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Maria José Sousa

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012. Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Crónicas Geral Sociedade

Flores, 20 anos depois

Flores, 20 anos depois No dia em que escrevo, completam-se vinte anos desde que cheguei às Flores. Vinte e cinco horas de viagem no Golfinho Azul, partindo da Praia da Vitória, passando por Graciosa, São Jorge, Pico e Faial. No porão ia o meu Suzuki Samurai, carregado até mais não com coisas que achei essenciais. […]

LER MAIS
Crónica da Fajãzinha Crónicas

“Crónica da Fajãzinha #11”

José Fernandes, Maria Avelar,Jacinto Avelar, Maria Fortuna, Francisco Fortuna, António Custódio, Fátima Custódio, Verónica Eduardo, Manuel Furtado, Rafaela Furtado, Ema Furtado, Lúcia Custódio, Armando Custódio, Lurdes Henriques, Maria P. Eduardo, Ana Silveira, Maria Olívia Corvelo, José Henriques Custódio, Sidónia Cordeiro, José A. C. Freitas, Nélia Freitas, Joana Freitas, Isilda Corvelo, Maria Corvelo, Serafina Eduardo, António […]

LER MAIS
Crónicas Histórias das minhas gentes

“Histórias das Minhas Gentes #47”

Duas histórias. Duas notas. Uma de 20 escudos, outra de mil escudos. Ainda morava na casa velhinha e a minha mãe parou na casa dos meus avós para nos levar para casa. Vinha exausta de assentar blocos na casa nova junto com o meu pai. Confiou-me uma nota de vinte escudos e disse: Maria, vai […]

LER MAIS