“Histórias das Minhas Gentes #32”

Adicione aqui o texto do seu título

Hoje estou profundamente grata a sra. Fátima Henriques pela sua partilha. Vou tentar encadear as coisas pela mesma forma como me cedeu em manuscrito:

" Vou tentar escrever o que me vai na memória.

O que me lembro.

Cantar os anos bons e os reis. O rei preto era só na Lomba, tradição daquela freguesia.

As crianças só podiam cantar durante o dia, os adultos a noite.

O que precisávamos para cantar os anos bons e os reis? Primeiro: alegria e para acompanhar um tambor feito da bexiga do porco, enchíamos e lá dentro púnhamos uns grãos de milho ou feijão, isto para pôr a secar ao fumeiro na baralha das linguiças. Quando estava em condições de ser usado, aqueles grãos davam o som certo. Então os arcos da pereira serviam para o efeito, fazer o tambor. Só muito mais tarde o comércio teve bonitos, coloridos e mais bem feitos, mas nunca com aquele som tão bonito. Os ferrinhos íamos pedir ao ferreiro para fazer um triângulo, com outro para bater. Também havia quem sabia tocar e tinha uma gaita. Estava tudo pronto para ir cantar. O trovador e seus amigos acompanhantes iam de porta em porta a dar as boas festas.

 

Já chegou a vossa porta

Quem havia de chegar

São todos amigos vossos

Boas festas vimos dar.

Refrão: alegrem se os céus e a terra

Cantemos com alegria

Já nasceu o Deus Menino

Filho da virgem Maria.

(Se demoravam muito a abrir a porta)

Oh nobre dono da casa

Galhinho de salsa crua

Faz favor abrir a porta

Que faz muito frio na rua.

Oh nobre dono da casa

Vim por montes e canadas

Pelo jeito que estou vendo

Mal empregadas passadas.

(Quando abriam a porta)

Eu já vejo a porta aberta

Também vejo a luz acesa

Vamos entrar para dentro

Com toda a delicadeza.

(Dentro junto ao presépio)

Em Belém a meia noite

Nasceu um manso cordeiro

O nome que lhe deitaram

Jesus Cristo verdadeiro.

Do varão nasceu a vara

Da vara nasce a flor

Da flor nasceu Maria

De Maria o Redentor.

Oh meu menino Jesus

Onde está teu anel d'ouro

Deixei o lá na ribeira

Em cima do lavadouro.

Oh meu menino Jesus

Onde está a camisinha

Deixei a lá na ribeira

Em cima d'uma pedrinha.

Oh nobre dono de casa

Sua agulha me picou

Meta a mão na algibeira

Pague bem a quem cantou."

 

(Continua...)

Perfil do Autor

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012.

Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Maria José Sousa

Nascida a 08 de maio de 1979, natural de Santa Cruz das Flores, fez ensino primário na freguesia de Ponta Delgada, ilha das Flores onde residiu durante a sua infância e juventude. Concluiu o ensino secundário na Escola Básica e Secundária da ilha das Flores. Foi subdiretora do Jornal As Flores entre o período de 2006 e 2007, assumindo depois o cargo de diretora do mesmo jornal entre o período de 2008 a 2012. Atualmente é assistente técnica no Município de Santa Cruz das Flores, mediadora de seguros, colaboradora no jornal digital 9idazoresnews e correspondente da RTP/Açores.

Crónicas Geral Sociedade

Flores, 20 anos depois

Flores, 20 anos depois No dia em que escrevo, completam-se vinte anos desde que cheguei às Flores. Vinte e cinco horas de viagem no Golfinho Azul, partindo da Praia da Vitória, passando por Graciosa, São Jorge, Pico e Faial. No porão ia o meu Suzuki Samurai, carregado até mais não com coisas que achei essenciais. […]

LER MAIS
Crónica da Fajãzinha Crónicas

“Crónica da Fajãzinha #11”

José Fernandes, Maria Avelar,Jacinto Avelar, Maria Fortuna, Francisco Fortuna, António Custódio, Fátima Custódio, Verónica Eduardo, Manuel Furtado, Rafaela Furtado, Ema Furtado, Lúcia Custódio, Armando Custódio, Lurdes Henriques, Maria P. Eduardo, Ana Silveira, Maria Olívia Corvelo, José Henriques Custódio, Sidónia Cordeiro, José A. C. Freitas, Nélia Freitas, Joana Freitas, Isilda Corvelo, Maria Corvelo, Serafina Eduardo, António […]

LER MAIS
Crónicas Histórias das minhas gentes

“Histórias das Minhas Gentes #47”

Duas histórias. Duas notas. Uma de 20 escudos, outra de mil escudos. Ainda morava na casa velhinha e a minha mãe parou na casa dos meus avós para nos levar para casa. Vinha exausta de assentar blocos na casa nova junto com o meu pai. Confiou-me uma nota de vinte escudos e disse: Maria, vai […]

LER MAIS