Hoje dei por mim a pensar o quão ecológicos éramos há 30 anos atrás.
Os geladinhos da loja do Sr. João Caldeira feitos de refresco Dawa ou Tang de laranja eram colocados na caixinha de fazer cubos de gelo. Antes do processo de congelação ele colocava pauzinhos de bambu que ele próprio fazia. Quando íamos comprar ele retirava cuidadosamente das forminhas e colocava dentro de um saco de açúcar que ele tinha usado na sua casa e lavava, secava e pendurava numa mola para serem reutilizados na venda dos gelados. Também o papel castanho que ele usava para fazer as contas e tirar a prova dos nove era usado depois para embrulhar as fatias do queijo curado da Martins&Rebelo, ou para embrulhar a marmelada vendida à talhada.
O leite quando era das vacas do meu avô ia da lata para um jarro de vidro onde nos íamos servindo. Quando era de compra, eu ia a casa da sr. Fátima, vizinha da minha avó, ou do Sr. José Ambrósio, com uma latinha pequena de latão, onde enchiam para eu poder transportar para casa. Lembro-me do Sr. José Vicente vender também repolhos enormes e era num cesto de vimes que os levava para a loja. O Sr. Urbano, o Sr. José Silva e outros pescadores vendiam o chicharro ao prato. O prato era a medida e já despejavam diretamente para o recipiente do comprador.
Comprar um saco plástico era só em último recurso e se o fizéssemos, ele era lavado e reaproveitado vezes sem conta até romper.
Lembro-me da decoração da árvore de natal ser sempre a mesma toda a minha infância. Os fios já estavam velhos e despidos, algumas bolas já estavam "cascadas" do seu brilho. As figuras do presépio eram coladas no caso de ocorrer algum acidente. A roupa passava dos mais velhos para os mais novos e no fim ainda viravam panos de limpeza ou uma manta de retalhos. Nada se perdia, tudo se transformava.