As primeiras amizades da infância nunca se esquecem. São ternas. São doces.
A minha primeira melhor amiga na escola tinha acabado de chegar dos Estados Unidos para viver nas Flores com os irmãos. Houve logo uma proximidade muito grande entre nós. A Jéssica era uma menina muito bonita, cabelos longos loiros e um sorriso encantador. Fomos sempre muito cúmplices. Partilhávamos o lanche nos intervalos e tínhamos conversas de gente grande a passear à volta da escola. Foi com ela que comi a primeira vez marshmallows, porque a mãe enviava lhe doces, roupas e lápis de colorir em barris, da América. Todos os meninos da escola lhe pediam emprestados os lápis de cera da Crayon, caixas de 164. Eram cores que nunca mais acabavam.
As roupas mais bonitas e cheias de glamour na missa de domingo eram as da Jéssica e das irmãs. Entravam na igreja as três acompanhadas pela avó que chegava cheia de vaidade das suas lindas três netas.
Eu e a minha amiga partilhamos secretária (carteira - era assim que chamávamos) até ao quarto ano.
No último dia de escola primária a professora Conceição anunciou os nomes dos meninos que transitavam e os que não transitavam. Eu já estava de coração apertado porque sabia que o ano não tinha sido muito positivo para a minha amiga. Quando a professora chegou aos nossos lugares disse: Maria José transita, a Jéssica vai ter de ficar e se esforçar um pouco mais no próximo ano. Passou para os seguintes, mas nós duas já não ouvimos mais nada. Debulhamo-nos em lágrimas. Eu a dizer que preferia ter perdido o ano também. Ela a dizer que nunca me ia esquecer, que ia ser sempre a sua melhor amiga. Até parecia que uma ia para a guerra, tal foi o drama que ali se gerou.
Na realidade a vida separou nos, o tempo afastou nos. É assim a vida. Feita de encontros e desencontros. Mas a verdade é que esta memória é a prova de que num cantinho do coração ficou sempre esta amizade ingênua e bonita de duas meninas que foram grandes companheiras!