Sempre me lembro de ser uma criança muito desinibida, sempre falava com toda a gente, até porque naquela altura ninguém nos avisava para não falar com estranhos. Todos eram parte da comunidade, todos conhecidos e amigos. Na casa do meu avô Adolfo começou a surgir um rapazinho que aparecia no pátio e ficava na conversa com a Fatinha. Eu de início espreitava apenas para ver quem era o estranho de bigode igual ao do meu pai. A minha avó Amélia um dia disse: eles são namorados. Eu não sabia bem o que isso era, mas passei a ser uma "vela" assídua àquela namorico.
Mais tarde casaram como mandava a tradição e escolheram a capelinha do São João padroeiro dos namorados no Pico do Meio dia. Dessa cerimônia lembro-me do Francisco Manuel de dedo na boca a chorar que não queria levar os anéis com a minha irmã pequenita.
Esse estranho de bigode entrou na família. Passou a ser um tio emprestado, porque nem a Fatinha era minha tia, mas foi sempre como se fosse e ainda hoje continua a ser.
Os natais eram simples, fazíamos pedidos ao menino Jesus porque o Pai Natal não era tradição na nossa casa. Nesse Natal, pela noite dentro alguém bateu à porta e eu fui logo muito despachada a abrir. Surge me uma figura grande, vestida com um lindo fato vermelho, barbas brancas, óculos na ponta do nariz, luvas brancas e um saco cheio de prendas. Era o Pai Natal. A minha irmã fugiu assustada esconder se atrás da minha mãe. Eu e o meu irmão ficamos fascinados a olhar a bonita figura que tínhamos na nossa frente.
Ele começou a distribuir as prendas, mas perante a criança assustada não teve outra solução senão puxar as barbas para fora para revelar o rosto familiar.
O estranho de bigode que virou família, para mim será sempre, também, a recordação da entrada da figura mágica do Pai Natal na minha infância.