Isto é o título
A dias da comemoração da Ressurreição de Jesus Cristo para os crentes católicos, uma vez que para os benfiquistas já não há Jesus que nos salve, a Fajãzinha sabe que em 2022 se tornará a primeira freguesia dos Açores autossuficiente. Às vezes ouve-se por aí "que se quer um homem (ou uma ideia) e não se tem". Mas diga-se, esta novidade é do "cramelhano" (que é como se diz na Fajãzinha, do Diabo!).
Para não deixarmos nem "uma gateira na porta" (como se diz por aqui, porta ou janela ligeiramente entreaberta) o projeto de sustentabilidade será alicerçado, em primeiro lugar, numa bolha de imunidade onde toda a população da freguesia será vacinada, independentemente das idades ou fatores de risco, até ao final deste mês.
O fator energético será, sem qualquer dúvida, o principal motor deste projeto uma vez que a previsão inicial estima a instalação de painéis fotovoltaicos em todas as casas. Esta será a “chance” (oportunidade) de inclusive as moradias de segunda habitação, alojamentos locais e edifícios de carácter público ou de associativismo economizarem no que toca ao consumo de eletricidade, juntando, desta forma, o útil ao agradável.
Nesta área serão muitas as componentes a incorporar na primeira Eco freguesia 100% verde dos Açores. Todo o sistema de abastecimento de gás será substituído por recuperadores de calor e a prevalência para o aquecimento será dada ao produto natural, nomeadamente à base de madeira de zonas que carecem ficar urgentemente "escoimadas" (limpas, asseadas).
Neste seguimento e de acordo com um Decreto Legislativo Regional que será publicado na próxima semana - que só se tornou conhecido depois de se "escarafunchar" (mexericar, remexer) algumas fontes fidedignas - a futura construção da Central Hidroelétrica da Ribeira Grande, na Fajãzinha, foi um fator decisivo para a aprovação da implementação de todo o conjunto de medidas verdes a realizar até ao início do último trimestre de 2022, na freguesia.
Ainda no campo dos combustíveis, umas das alíneas de maior investimento prende-se na aquisição de viaturas elétricas para todos os proprietários, incluindo a substituição dos atuais veículos agrícolas por equipamentos tecnologicamente pró-ambiente. Embora a previsão seja andarem todos "fantesiosos" (vaidosos) de carro novo, este ponto poderá vir a ser dos menos consensuais para os habitantes da Fajãzinha. Isto porque, devido aos valores avultados dos novos veículos elétricos, alguns proprietários poderão ser confrontados com a retoma para abate de dois carros de combustível fóssil por apenas um elétrico. No entanto, está já a ser planeada uma linha de apoio ao crédito para aqueles que quiserem ter mais do que um automóvel.
Uma das surpresas extra projeto será a construção de uma sede para a Filarmónica União Operária e Cultural Nossa Senhora dos Remédios, uma obra que rondará os 300 mil euros, numa arquitetura de construção inteligente e com um espaço não só contemporâneo, mas onde o " pagode" (a festa e a música) seja socialmente viável.
Para o centro nevrálgico da freguesia está pensado o emparelhamento de diversas parcelas e montagem de estufas comunitárias numa área significativa que ultrapassará os 500m2. Para que andem todos como um "Espiga de Arrife" (de origem do trigo e da mata, serve para designar os magrinhos/compridos) com a labuta dos solos. E, neste contexto, mencionar que os terrenos adjacentes serão suplementados com um canal de rega eficaz.
A rede de captação de água será doravante catapultada por um sistema de controlo rigoroso e a distribuição será melhorada com o objetivo de um maior armazenamento e diminuição de desperdício. Numa zona de água abundante está prevista a construção de um reservatório que, simultaneamente, poderá servir de apoio a outras freguesias da ilha. Um excelente mote para não se "estarraçar" (estragar) importante recurso.
Tal como em todas as habitações, toda a iluminação pública, que se liga "de jantar para a noite" (período compreendido entre o final da hora de almoço até ao escurecer), será em LED´s e outra das grandes inovações será a recuperação de moinhos de água para dar início e complementar o serviço efetuado pelo existente na Ribeira da Alagoa.
Algumas das obrigações provenientes deste futuro modelo, que radicalizará toda uma vivência, prendem-se com a proibição de utilização de quaisquer adubos químicos e a única e exclusiva permissão para pesticidas orgânicos. Esta imposição é positivamente um acréscimo para a saúde pública evitando que se fique, por exemplo, com uma "marvalha no olho" (corpo estranho, ou partícula).
Na sequência destas incumbências, ainda no setor primário, o objetivo passa por complementar a agricultura biológica certificada com os processos de venda de carne e queijo biológico. Neste setor o paradigma terá outros custos inicialmente, uma vez que todo o método desde a criação do gado à elaboração de um queijo terá de obedecer a rigorosos critérios ambientais. Até as "coivas com conduto e o entragosto" (pratos recorrentes nas mesas da Fajãzinha) vão ostentar melhor paladar.
O grau de compromisso entre o morador da Fajãzinha e este futuro modelo a executar a 100% já no próximo ano vai ser acompanhado por um gabinete a instalar na freguesia até ao final deste verão, onde constam a residência, inicialmente, de dois engenheiros na área da avaliação e gestão ambiental, bem como de seis técnicos especializados em energias e eficiência energética.
Numa época em que se "crama" (lamenta, queixa) com falta de emprego, este plano prevê que, até 2026, possam ser criados, direta ou indiretamente, cerca de 15 novos postos de trabalho, sendo que se calcula o aumento da população residente em cerca de 35%. Nota ainda para outro argumento de registo. A futura alteração do PDM (Plano Diretor Municipal) obrigará e dará prevalência, quase em exclusivo, à reestruturação de ruínas e, muito dificilmente, será dada permissão para a nova construção. Ainda assim, e na ótica da reedificação de imóveis direcionada ao plano futuro da freguesia, os apoios para esta área serão alvo de uma majoração ao financiamento já existente para uma ilha da Coesão, como é o caso das Flores.
Embora a certificação e galardão desta freguesia como 100% sustentável só possa vir a ser atribuída após a construção da nova Hídrica da Ribeira Grande (em tempos ansiada, mas na "Baixa Rasa"), os passos dados com a conjuntura planeada para os próximos meses trazem garantia de um sério caso de estudo para um Planeta mais saudável e sobretudo mais eficiente.
Fajãzinha, 1 de abril de 2021
Marco Henriques
*As expressões ou palavras em itálico (com o seu significado em parêntesis) são utilizadas grandeza de vezes na Fajãzinha. Para descobrir sua etimologia implicaria um estudo aprofundando, apesar de arriscar que a sua ´origem´ possa ser, nalguns casos, na freguesia.
**Qualquer tentativa de colagem a um manifesto para outubro ou associação de políticas a estes pergaminhos é pura demagogia de abril.
E não se esqueçam: eu sei que é dia 1 de abril, mas "antes morrer livres, que em paz sujeitos". Sonhar não custa. Não sejam ´tolos´.
Marco Henriques, natural da Fajãzinha, nasceu em 1988 e é licenciado em Comunicação Social e Cultura.
Trabalhou enquanto jornalista no Diário dos Açores entre 2009 e 2011 e é Oficial de Operações Aeroportuárias desde 2012 na empresa ANA - Grupo Vinci.
Colaborou com o jornal “O Monchique” entre 2006 até à sua extinção e é desde 2017, ano em que regressou à ilha das Flores, Presidente da Direção da Filarmónica União Operária e Cultural Nossa Senhora dos Remédios.
- Janeiro 1, 2021
- Fevereiro 1, 2021
- Março 1, 2021
- Maio 1, 2021