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Como não só de notícias e de opinião vive as Flores, o site Florentinos decidiu abrir uma nova categoria onde se conta as nossas histórias, as nossas tradições, as nossas lendas.
Abrimos esta nova categoria com uma lenda baseada na fé dos nossos antepassados.

Fotografia de Adão Pinheiro
Lenda do pão que não levedou por castigo do Espírito Santo
Havia um homem antigamente, chamado José (um dos nomes mais comuns dos homens das Flores) que tinha muita fé no Espírito Santo. Como a mulher estava para ter um filho, prometeu dar um boi para o Espírito Santo, se tudo corresse bem.
Chegou-se ao dia de matar o gado para a festa e o homem arrependeu-se do que tinha prometido porque o boi fazia-lhe muita falta para lavrar e carrear. Inventou uma desculpa e veio falar com a mulher que estava a amassar pão. Convenceu-a e não foi levar o boi.
Ela não ficou muito satisfeita, mas lá continuou a amassar o pão. Pôs o fermento e deu-lhe mais umas “mexedelas” como sempre costumava fazer. Pôs um abafo por cima do alguidar e, para a massa “chegar” depressa, pô-lo sobre o lar ao pé do calor da fornalha.
O tempo foi passando e o pão não levedava. A mulher olhava para ele a ver se via uma “arregoazinha”, tocava-lhe com a ponta do dedo indicador, mas nada, não mexia.
— Era o fermento que não era bom! Vou buscar fermento a casa da vizinha, que ela tem fermento fresco! — disse a mulher, enquanto punha o xaile sobre os ombros.
Saiu, trouxe o fermento e misturou-o no pão, esperançada que daí a pouco tempo já estaria com o pão “a modos” de ir para o forno. Foi esperando, esperando, mas nada. A massa continuava como a tinha deixado. Entretanto o boi que se tinha desamarrado da terra e tinha vindo ter a casa, berrava lá fora.
A mulher já não estava nada satisfeita com o que se estava a passar e tinha o pressentimento de que tudo aquilo era por causa da promessa que o marido não tinha pago.
Chamou por ele e disse-lhe que o que era prometido era devido e que não se devia brincar com o Senhor Espírito Santo. O marido, vendo-a assim preocupada, acedeu:
— O boi vai para o Espírito Santo!
Para espanto dos dois, logo que o marido tomou esta decisão, o pão transbordou pelo alguidar fora, pronto para ir para o forno.
Pagaram a sua promessa, o filho nasceu bem e cada vez mais aumentou a fé daquela família no Espírito Santo.
Texto cedido por António Maria Gonçalves
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