Flores, a ilha mais isolada dos Açores: 23 dias sem voos da SATA entre Janeiro e Fevereiro de 2021

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Fotografia: Frederico Fournier

Podia iniciar este texto com uma explicação aprofundada acerca do inverno rigoroso que se tem feito sentir na ilha das Flores, enunciando o início do colapso do Vortex Polar em finais de Dezembro, devido a um anormal aquecimento do ar em níveis superiores da atmosfera (estratosfera) por via de um fortalecimento do anticiclone do Pacífico, deformando-o e provocando a sua divisão (do Vortex) em dois núcleos que se moveram para latitudes mais baixas afetando a América do Norte (até cá!) e o continente europeu, acabando por serem substituídos por uma região de altas pressões localizada, em média, sobre a Gronelândia. No entanto, não vou maçar o leitor com estes assuntos pois já “sentiu na pele” os efeitos do enunciado.

Apesar da ilha das Flores ser frequentemente fustigada por mau tempo é consenso geral entre nós, florentinos, que este inverno tem sido pior que os dos últimos anos. Em Janeiro, por exemplo, estivemos sob a influência da depressão Filomena seguida da depressão Justine. Choveu quase o dobro do normal e foram registadas rajadas do vento à superfície entre os 105km/h e os 137 km/h em várias freguesias da ilha. Fevereiro trouxe-nos igualmente mau tempo, com a depressão Karim a dar um ar de sua graça…. Tal como no mês anterior, choveu quase o dobro do normal para o mês, ventos com rajadas acima dos 100 km/h, e sobretudo muito frio com a ocorrência, inclusive, de alguma neve no Morro Alto!!

O isolamento natural da nossa ilha, devido à nossa geografia, é normalmente agravado durante o inverno pelas condições meteorológicas. Nestes primeiros dois meses do ano, as Flores foram a ilha mais isolada dos Açores: 23 dias sem qualquer ligação aérea ao exterior através de voo SATA!! Em Janeiro estivemos nove dias sem avião e em Fevereiro foram catorze dias!! Só entre os dias 8 e 14 de fevereiro estivemos sete dias seguidos sem ponte aérea através de avião comercial de passageiros/carga. Resumindo, quase um mês seguido sem avião!

Também o navio Malena viu as viagens agendadas para as Flores serem alteradas devido às previsões de mar alteroso a tempestuoso. Depois de vinte e três dias sem ligação marítima de carga (desde 18 de dezembro), a primeira viagem de 2021 aconteceu no dia 10 de janeiro com a chegada ao porto das Lajes, e logo a seguir no dia 14. Depois seguiram-se mais vinte e dois dias sem barco, regressando novamente no dia 5, depois no dia 16 e por fim a 27 de fevereiro.

O impacto deste isolamento na economia da ilha todos nós o sabemos mensurar, sejamos simples cidadãos, ou empresários de qualquer ramo. Contudo, questiono-me diversas vezes: Qual o peso deste isolamento, naturalmente agravado nos meses de inverno, no contexto da desertificação da ilha? Como é que nós, enquanto indivíduos, o sentimos? Qual o nosso grau de resiliência? Terá sido um dos factores em conta no êxodo das famílias que nos últimos tempos decidiram buscar residência noutras geografias?

Perfil do Autor

Nasceu em Santa Cruz das Flores, em 1979. Prossegue os estudos do secundário em S. Miguel onde frequentou, em simultâneo, o Conservatório Regional de Música de Ponta Delgada.
Entre 1998 e 2002 forma-se em Operador Meteorológico na Força Aérea Portuguesa, exercendo funções nas base aéreas de Sintra e Monte Real. Em 2002, integra o Instituto de Meteorologia (actual IPMA), sendo colocado no CMA Flores - aeroporto das Flores. Tira a licenciatura em Ciências Sociais com especialização em Psicologia Social. Entre 2011 e 2013 exerce no CMA Porto - aeroporto Francisco Sá Carneiro. Em simultâneo, frequenta com sucesso os 1º e 2º anos da licenciatura em Direito.
Em fins de 2013 regressa às Flores, exercendo funções no CMA Flores - aeroporto das Flores, como técnico superior na área da Observação em Meteorologia Aeronáutica.
É administrador da página Meteo a Ocidente na rede social Facebook.

Bruno Correia

Nasceu em Santa Cruz das Flores, em 1979. Prossegue os estudos do secundário em S. Miguel onde frequentou, em simultâneo, o Conservatório Regional de Música de Ponta Delgada. Entre 1998 e 2002 forma-se em Operador Meteorológico na Força Aérea Portuguesa, exercendo funções nas base aéreas de Sintra e Monte Real. Em 2002, integra o Instituto de Meteorologia (actual IPMA), sendo colocado no CMA Flores - aeroporto das Flores. Tira a licenciatura em Ciências Sociais com especialização em Psicologia Social. Entre 2011 e 2013 exerce no CMA Porto - aeroporto Francisco Sá Carneiro. Em simultâneo, frequenta com sucesso os 1º e 2º anos da licenciatura em Direito. Em fins de 2013 regressa às Flores, exercendo funções no CMA Flores - aeroporto das Flores, como técnico superior na área da Observação em Meteorologia Aeronáutica. É administrador da página Meteo a Ocidente na rede social Facebook.

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