Padre José Furtado Mota

Adicione aqui o texto do seu título

(1878-1963)

Nascido a 29 de julho de 1878 no lugar dos Vales, freguesia e concelho de Santa Cruz das Flores, era filho de João Furtado Mota e de Filomena de Jesus Coelho, duma família com largas tradições rurais e agrícolas.

Frequentou a escola primária de Santa Cruz das Flores, onde desde logo revelou privilegiada inteligência e clara vocação religiosa.

Após ter experimentado por alguns anos a vida agropecuária, ingressou no Seminário de Angra do Heroísmo, onde foi ordenado sacerdote a 22 de março de 1907, depois de um curso cheio de rigor e cultura que muito lhe viria a servir na sua vida de padre e de orientador de pessoas.

Paroquiou pela primeira vez no lugar da Ponta da Fajã Grande, tendo assim o privilégio de proceder à inauguração do seu templo dedicado a Nossa Senhora do Carmo, acabado de ser construído.

Por volta de 1909 viria a ser transferido para a freguesia do Lajedo do mesmo concelho., onde humildemente passou o resto da sua vida. E foi uma longa e intensa vida de esforços e riscos para tentar propiciar o desenvolvimento do meio rural florense, com o qual sempre se identificou.

O seu falecimento ocorreu em 16 de fevereiro de 1963 e os seus restos mortais encontram-se sepultados no cemitério de Santa Cruz das Flores, em conformidade com um dos seus últimos desejos.

Mas a figura do Padre Mota jamais poderá ser esquecida por aqueles que o conheceram e, sobretudo, pelos que beneficiaram da ação por ele desenvolvida junto da lavoura florense. Essa sua atividade projetou-se também para outras ilhas do arquipélago, através do movimento cooperativo, graças aos êxitos que o mesmo obteve na ilha das Flores, a partir dos últimos anos da primeira década do século passado.

Sensibilizado com as dificuldades económicas dos lavradores seus conterrâneos, constantemente explorados nos suas produções pelos industriais e comerciantes, desde cedo resolveu lutar para os libertar dessa situação desumana de dependência e exploração.

A ele se deve pois, pela sua ação pedagógica, revolucionária e ao mesmo tempo perigosa, a criação do movimento cooperativista nas ilhas das Flores e do Corvo, nomeadamente no sector dos lacticínios. A sua ação foi perigosa porque foram muitos e poderosos os inimigos desse movimento.

A sua luta travou-se contra grandes empresas já instaladas na Ilha como por exemplo “António Caetano Serpa & Filhos”, “ Martins & Rebello” e “Maurício António Fraga & Cª. “, entre outras, as quais vieram a desaparecer com a chegada das Cooperativas. Contudo, algumas vieram, no entanto, a aderir ao cooperativismo que então se instalava, como foi o caso da “António Luís de Freitas” nas Lajes e “António Caetano Serpa” de Santa Cruz.

Anteriormente, os lacticínios bem como a comercialização de gado na ilha das Flores estavam entregues ao domínio do grande capitalismo, que ao tempo, não só desfrutava de grande poder económico, como ainda era detentor do poder político na ilha. Os lavradores entregavam-lhe o leite dos seus animais e em troca ou, por conta, recebiam apenas mercadorias dos seus estabelecimentos comerciais, acabando estes por lhes “sacar” duas margens de lucro, para além de outros tipos de exploração que o sistema lhes proporcionava.

Graças ao Padre Mota, em meados da década de 1910, no Lajedo, sob a sua liderança, tiveram lugar os seus “esclarecimentos” sobre a organização de “sindicatos agrícolas”, que mais não foram do que Cooperativas agrícolas, como noticiava o “Jornal-Rádio” de 28-10-1915.

A partir daí e até 1919, por toda a Ilha das Flores e até no Corvo, de localidade em localidade, de casa em casa, foram levadas a efeito, por ele e por outros intervenientes sob a sua orientação, conversas, colóquios e sessões de esclarecimento, importantíssimos na implantação do movimento cooperativista.

 Foi uma luta constante e corajosa já que chegou mesmo a ser ameaçado de morte pelos seus inimigos. Por esse motivo, chegou a ter necessidade de andar armado, para defesa pessoal.

O primeiro Sindicato a constituir-se foi o da freguesia do Lajedo, com a designação de Sindicato Agrícola da Ilha das Flores, cuja escritura foi lavrada nessa freguesia a 5 de janeiro de 1918, com Alvará assinado em 27 de agosto do mesmo ano pelo então Presidente da República Sidónio Pais, muito embora a sua atividade já tivesse sido iniciada anteriormente.

 Assim, sócio número um e o primeiro Presidente de Direção da primeira Cooperativa foi o Padre Mota, que assim, dava exemplo de coragem e dedicação ao movimento, transformando-se simultaneamente em agricultor para nela poder se associar e, assim, estar ao lado do povo.

Ao mencionado Sindicato seguiram-se as criações dos Sindicatos Agrícolas de Lajes das Flores, Fazenda, Lomba e da Fajã Grande e outros que mais tarde lhes seguiram o exemplo.

Consta que, a partir da criação dessas cooperativas, o leite passou a ser pago ao lavrador a um preço que, em menos de um ano, triplicou em relação ao anteriormente pago pelas empresas.

Sempre que necessário intervinha na resolução de problemas levantados na comercialização da manteiga e do gado dos diversos sindicatos da ilha, provocados pelos industriais com vista ao insucesso do seu movimento. Consta que numa dada ocasião em que as autoridades haviam proibido o embarque de gado e lacticínios, prejudicando assim os lavradores florenses, desafiando as autoridades, terá feito sair um navio deles carregado, diretamente das Flores para Lisboa, o qual acabaria por ser aprisionado nas proximidades da ilha de São Jorge e obrigado a regressar à Horta. Horas depois, por sua iniciativa e influência, o mesmo navio era autorizado pelo Governo Central a seguir a sua viagem para a capital, transportando aqueles produtos.

Muitas outras histórias eram contadas, relacionadas com a luta que travou para instituir nestas ilhas o seu profícuo ideário cooperativista.

De realçar uma entrevista do Padre Mota, dada ao jornal “ Portugal, Madeira e Açores” publicada em 22 de dezembro de 1947, ao correspondente Jacob Tomaz e que depois viria a ser transcrita no Jornal “As Flores” de 22 de junho de 1978, por ocasião do centenário do seu nascimento

 

O Padre Mota, trabalhou quanto a sua juventude revolucionária lhe permitiu, às vezes com prejuízo das suas horas de repouso, não se poupando a sacrifícios de toda a ordem e correndo riscos, como atrás foi referido, quando se deslocava pela noite, no seu próprio cavalo, de localidade em localidade. Diversas vezes os seus familiares e amigos o aconselharam a que desistisse da sua luta, mas ele respondia que só pararia quando estivessem devidamente protegidos todos os interesses da lavoura das Flores. Tal obstinação levou-o a ser odiado por alguns e admirado e lisonjeado por muitos que o consideravam o libertador e protetor do lavrador florense.

Graças a ele, as Cooperativas começaram a fazer diretamente a industrialização e comercialização dos produtos agrícolas dos seus associados, importando diretamente as mercadorias essenciais para os seus consumos, quer para usos agrícolas, quer para usos domésticos.

Como reconhecimento pela sua importante ação, a lavoura da ilha das Flores, cunhou uma medalha em ouro, com a qual o condecorou, e que ele, orgulhosamente, ostentou na celebração das suas bodas de ouro sacerdotais.

Também o jornal “As Flores” de 22 de junho de 1978, lhe prestou justa e sentida homenagem póstuma, dedicando-lhe a edição desse dia em que se celebrava o primeiro centenário do seu nascimento.

Músico de elevada qualidade, era no exercício dessa atividade musical, sempre de grande importância na liturgia católica, que o Padre Mota melhor se sentia no desempenho do seu múnus sacerdotal. Com a sua voz potente e cultivada, evidenciava-se em quase todas as igrejas por onde passava, na execução das mais famosas e sofisticadas “missas” de autores célebres, solenemente cantadas em latim.

Exerceu funções públicas como membro de órgãos autárquicos do seu concelho, nomeadamente Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lajes das Flores, a ele se ficando a dever-se algumas boas iniciativas, sobretudo na construção de vias de penetração (Jornal “As Flores” de 18-3-1933).

O Padre José Furtado Mota, foi, por tudo isso e muito mais, um importante e Distinto Cidadão da Ilha das Flores.

 
Bibliografia:
-“Florentinos que se distinguiram” de José Arlindo Trigueiro;
-Jornal “As Flores” de 22.6.1978 , artigo de Jacob Tomás;
-Jornal “Correio da Horta de 7.8.1984 , artigo de José Arlindo Trigueiro;
-“História dos Lacticínios das Flores” de Pierluigi Bragaglia;
-“Padres das Flores” de José Arlindo Trigueiro.
Perfil do Autor

António Maria Silva Gonçalves, nasceu na freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores a 24 de Abril de 1955, onde reside;
Concluiu o curso geral dos liceus em 1973, ano em que começou a trabalhar na Segurança Social, onde fez carreira;
Ocupou diversos cargos políticos, entre eles: Secretário da Junta Freguesia da Fazenda, Presidente Assembleia Municipal e vereador da Câmara Municipal de Lajes das Flores, presidente do Conselho de Ilha e Deputado Regional pelo círculo das Flores;
Dirigiu e ainda colabora em diversas instituições particulares de solidariedade social;
Coordenou a Revista Municipal de Lajes das Flores, foi subdiretor do Jornal do Ocidente e tem participações dispersas em prosa e poesia na imprensa regional, inclusive no Boletim do Instituto Histórico da Terceira de que é sócio. É autor de “Flores de Outros tempos (da História à Etnografia)” e “Falquejos – textos etnográficos”, dois livros que publicou respetivamente em 2019 e 2020.
Autodidata, são conhecidos ainda alguns trabalhos seus, na música, teatro e ultimamente na pintura.

António Maria Gonçalves

António Maria Silva Gonçalves, nasceu na freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores a 24 de Abril de 1955, onde reside; Concluiu o curso geral dos liceus em 1973, ano em que começou a trabalhar na Segurança Social, onde fez carreira; Ocupou diversos cargos políticos, entre eles: Secretário da Junta Freguesia da Fazenda, Presidente Assembleia Municipal e vereador da Câmara Municipal de Lajes das Flores, presidente do Conselho de Ilha e Deputado Regional pelo círculo das Flores; Dirigiu e ainda colabora em diversas instituições particulares de solidariedade social; Coordenou a Revista Municipal de Lajes das Flores, foi subdiretor do Jornal do Ocidente e tem participações dispersas em prosa e poesia na imprensa regional, inclusive no Boletim do Instituto Histórico da Terceira de que é sócio. É autor de “Flores de Outros tempos (da História à Etnografia)” e “Falquejos – textos etnográficos”, dois livros que publicou respetivamente em 2019 e 2020. Autodidata, são conhecidos ainda alguns trabalhos seus, na música, teatro e ultimamente na pintura.

Distintos Florentinos Geral

PADRE INÁCIO COELHO

(1575-1643) Fundador do Convento de S. Boaventura   Nasceu em Santa Cruz das Flores por volta de 1575, filho de Mateus Coelho da Costa, Capitão-mor das Flores e do Corvo, e de sua primeira mulher, Catarina Fraga (por sua morte, ocorrida a  13 de Agosto de 1594, Mateus Coelho da Costa voltaria a casar, desta […]

LER MAIS
Distintos Florentinos Geral

FRANCISCO MANUEL DE MESQUITA PIMENTEL FURTADO DE MENDONÇA

(1748? – 18??) Foi Capitão-Mor das Ilhas das Flores e do Corvo, Governador de São Miguel e posteriormente Coronel Mestre de Campo dos Açores. Francisco Manuel de Mesquita Pimentel Furtado de Mendonça nasceu vila de Lajes das Flores, provavelmente em 1748, filho de Roberto Pimentel de Mesquita, que durante vários anos exercera funções de sargento-mor, […]

LER MAIS
Distintos Florentinos Geral

Padre José António Camões

(1772-1827) Batizado a 13 de Setembro de 1777 na paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, do lugar das “Fajans”, hoje freguesia da Fajãzinha, onde terá nascido a 10 ou 11 do mesmo mês e ano, o Padre José António Camões era filho de pais incógnitos ou “filho de pais desconhecidos, exposto nesta freguesia…”, isto é, […]

LER MAIS