Padre José António Camões

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(1772-1827)

Batizado a 13 de Setembro de 1777 na paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, do lugar das “Fajans”, hoje freguesia da Fajãzinha, onde terá nascido a 10 ou 11 do mesmo mês e ano, o Padre José António Camões era filho de pais incógnitos ou “filho de pais desconhecidos, exposto nesta freguesia…”, isto é, ali abandonado, como informa o seu registo de nascimento. Segundo Pedro da Silveira, seria filho de uma irmã solteira do sargento-mor João António de Freitas Henriques e de um frade do convento franciscano de Santa Cruz, Frei Manuel S. Domingos, que lá terá passado a pedir esmola.

O sobrenome “António”, que como se sabe não foi objecto do seu registo de baptismo, ter-lhe-á sido dado pelo tutor, João António de Freitas Henriques, acima referido. O apelido de “Camões”, que por ele viria a ser adoptado aquando da sua ordenação sacerdotal, reflectia a sua admiração e homenagem ao grande poeta português, autor dos Lusíadas—Luís Vaz de Camões—que ele tanto apreciava desde a sua juventude. Ambos os nomes foram registados, a seu pedido, por ocasião daquela ordenação em Angra do Heroísmo.

A sua personalidade e a sua vida têm sido objecto das maiores polémicas e controversas histórias como acontece com as grandes figuras. O Dr. José Guilherme Reis Leite, terá sido quem mais longe levou a sua investigação, servindo-se de variada documentação nos principais arquivos da Região  e escritos importantes do historiador terceirense do século XIX, Francisco Ferreira Drummond.

José, foi protegido na sua infância e juventude pelo rico e influente sargento-mor João António de Freitas Henriques, atrás referido, com solar na Fajã Grande, onde conheceu uma vida extremamente dura, mas que ele aproveitou para enriquecer de conhecimentos e de cultura, através do clero da ilha e de muitos livros que possuía o sargento-mor.

Como descreve Ernesto Rebello, foi um notável autodidacta, aproveitando bem todo o saber transmitido pelos franciscanos de Santa Cruz.

.A seguir passou ainda pela casa de outro lavrador, da família Barcelos, da freguesia de Ponta Delgada das Flores, família esta que o incentivou e ajudou a seguir o caminho do Seminário de Angra juntamente com um filho, onde foram ordenados sacerdotes a 30 de Outubro de 1804.

Mas a sua grande vocação era o ensino. Assim, foi professor de Gramática Latina, em Santa Cruz e Ponta Delgada das Flores, sabendo-se que ao seu ensino recorriam frequentemente estudantes das ilhas das Flores, Corvo e até do Faial.

A pedido do Bispo D. José Pegado de Azevedo, em 1807, vai paroquiar para a freguesia de Ponta Delgada, sendo depois designado ouvidor eclesiástico das Flores e Corvo. Em 1813, contudo, é destituído do cargo de ouvidor e perseguido, enfrentando então um polémico e injusto processo-crime organizado pela Diocese. É culpado de ser o autor de “ Testamento de D. Burro, Pai dos Asnos” (uma sátira poética em que o autor, imaginando-se um burro do Corvo, lega aos seus inimigos os trastes que lhe restam e, sobretudo, os órgãos e as diversas partes do seu corpo, escandalizando todo o clero das Flores e de outras ilhas. Vai preso para Angra, fazendo aí uma brilhante defesa pessoal, sendo absolvido pela Mesa Capitular em 1815.

Consegue, contudo, a recuperação do lugar de professor régio, embora miseravelmente pago.

Possuidor de elevada competência e cultura como professor e sacerdote, apoiado pela sua excelente biblioteca, foi brilhante nas letras, quer como poeta, quer como escritor. Como liberal, acompanhava com interesse toda a convulsão política verificada com a monarquia portuguesa do seu tempo.

Depois de uma vida atribulada e polémica, faleceu, pobre e abandonado a 18 de Janeiro de 1827 na freguesia de Ponta Delgada das Flores, em cuja igreja ficou sepultado no respectivo cruzeiro, contando apenas 49 anos de idade.

Os seus principais escritos foram:

– “Memória da Ilha das Flores”, uma descrição da Ilha com os seus usos e costumes, bem como um roteiro detalhado da orla marítima e outro das diversas povoações então existentes. Trabalho escrito entre 1815 e 1822, é notável pela forma minuciosa como regista pormenores essenciais da ilha; formas de vida, produções e coisas notáveis, roteiro de baixas, ilhéus, enseadas e ribeiras; governação civil e militar, educação e singularidades; mencionando por povoações, as quantidades da população, os fortes e guarnições militares, casas cobertas com telha, pessoas calçadas, igrejas, remunerações paroquiais e autoridades civis e militares.

-“Testamento de D. Burro, Pai dos Asnos”, a tal escandalosa sátira poética atrás descrita. É um poema heróico, com linguagem humorística, em que usa alguns termos grosseiros e obscenos, ofensivos para os respectivos contemplados nesse testamento singular.

-“Os Pecados Mortais”, é outra sátira, constituída por um poema em forma de diálogo entre marido e mulher, em que o autor faz a paridade dos Sete Pecados Capitais com os sete padres que não o querem como ouvidor das Ilhas das Flores e do Corvo.

-Os “Poemas Dispersos” demonstram bem a qualidade poética do autor, bem como a forma como acompanhava a vida política do Reino, no Continente e nos Açores.

Perfil do Autor

António Maria Silva Gonçalves, nasceu na freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores a 24 de Abril de 1955, onde reside;
Concluiu o curso geral dos liceus em 1973, ano em que começou a trabalhar na Segurança Social, onde fez carreira;
Ocupou diversos cargos políticos, entre eles: Secretário da Junta Freguesia da Fazenda, Presidente Assembleia Municipal e vereador da Câmara Municipal de Lajes das Flores, presidente do Conselho de Ilha e Deputado Regional pelo círculo das Flores;
Dirigiu e ainda colabora em diversas instituições particulares de solidariedade social;
Coordenou a Revista Municipal de Lajes das Flores, foi subdiretor do Jornal do Ocidente e tem participações dispersas em prosa e poesia na imprensa regional, inclusive no Boletim do Instituto Histórico da Terceira de que é sócio. É autor de “Flores de Outros tempos (da História à Etnografia)” e “Falquejos – textos etnográficos”, dois livros que publicou respetivamente em 2019 e 2020.
Autodidata, são conhecidos ainda alguns trabalhos seus, na música, teatro e ultimamente na pintura.

António Maria Gonçalves

António Maria Silva Gonçalves, nasceu na freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores a 24 de Abril de 1955, onde reside; Concluiu o curso geral dos liceus em 1973, ano em que começou a trabalhar na Segurança Social, onde fez carreira; Ocupou diversos cargos políticos, entre eles: Secretário da Junta Freguesia da Fazenda, Presidente Assembleia Municipal e vereador da Câmara Municipal de Lajes das Flores, presidente do Conselho de Ilha e Deputado Regional pelo círculo das Flores; Dirigiu e ainda colabora em diversas instituições particulares de solidariedade social; Coordenou a Revista Municipal de Lajes das Flores, foi subdiretor do Jornal do Ocidente e tem participações dispersas em prosa e poesia na imprensa regional, inclusive no Boletim do Instituto Histórico da Terceira de que é sócio. É autor de “Flores de Outros tempos (da História à Etnografia)” e “Falquejos – textos etnográficos”, dois livros que publicou respetivamente em 2019 e 2020. Autodidata, são conhecidos ainda alguns trabalhos seus, na música, teatro e ultimamente na pintura.

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