
Isto é o título
O projeto LIFE BEETLES (LIFE 18 NAT/PT/000864) é um projeto de conservação da Natureza cofinanciado em 55% pela União Europeia, coordenado pela Direção Regional do Ambiente, com um investimento global de 1,76 milhões de euros, e duração de 5 anos (Janeiro de 2020 a Dezembro de 2024). O LIFE BEETLES deriva da estratégia europeia para a biodiversidade, dado que na UE apenas 17% dos habitats e espécies, e somente 11% dos principais ecossistemas protegidos pela legislação da EU, se encontram num estado favorável, apesar das medidas tomadas de luta contra a perda da biodiversidade. Estas ações foram anuladas pelas continuas e crescentes pressões causadas: alteração do uso do solo, sobre-exploração dos recursos, propagação de espécies invasoras, poluição e alterações climáticas, são factores que se mantiveram constantes ou a acentuar. A protecção e a restauração da biodiversidade e o bom funcionamento dos ecossistemas são fundamentais para reforçar a nossa resiliência e prevenir o aparecimento e a propagação de futuras doenças. A Estratégia Europeia para a Biodiversidade, estabelece um conjunto de compromissos até 2030, sob o lema “Trazer a natureza de volta às nossas vidas”, que se destina a inverter a perda de Biodiversidade e que se foca no restauro da natureza. Há ainda que reforçar a aplicação do regulamento da UE relativo às espécies exóticas invasoras onde se procura minimizar e, sempre que possível, eliminar a introdução e o estabelecimento de espécies exóticas no ambiente da UE. O objetivo será “gerir as espécies exóticas invasoras estabelecidas e diminuir em 50 % o número de espécies da Lista Vermelha que elas ameaçam.”
Nos Açores, o principal objetivo deste projeto é melhorar o tamanho das populações, área de distribuição e estado de conservação de 3 espécies de escaravelhos endémicos: o Tarphius floresensis (escaravelho cascudo da mata) na ilha das Flores, Pseudanchomenus aptinoides (laurocho) no Ilha do Pico, e o Trechus terrabravensis (carocho da terra-brava) na Ilha Terceira. Neste sentido, estão planeadas diversas acções concretas de conservação e de monitorização dos habitats considerados prioritários. A solução climática mais barata, dizem os especialistas, é devolver uma parte do Planeta à Natureza, protegendo algumas áreas que constituem refúgios para espécies animais e vegetais ameaçadas pela actividade humana e pelo aquecimento global. Ao protegermos o habitat desta frágil espécie de escaravelho florentino, estaremos também a contribuir para a conservação de outras espécies essenciais para o equilíbrio desta Ilha, Reserva da Biosfera.
Foi com esse objectivo que ontem, dia Mundial da Vida Selvagem, o projeto LIFE BEETLES, coordenado pela Coordenadora de Comunicação Telma Figueiredo, e o Parque Natural da Ilha das Flores levaram a cabo a actividade "À caça da Acácia" para controlar a flora invasora da Ribeira do Fundão nas Lajes das Flores. Os trabalhos consistiram no controlo manual de acácias (Acacia melanoxylon), através de desgaste e corte da casca até à base, bem como a irradicação outras invasoras como a cana-roca (Hedychium gardnerianum), incenso (Pittosporum undulatum) e a tabaqueira (Solanum mauritianum).
As acácias são das espécies invasoras mais agressivas no mundo e podem comprometer seriamente as linhas de água através da alteração das características da matéria orgânica, da quantidade de água e da concentração de nutrientes, com consequências nas comunidades e processos aquáticos.
A disseminação da acácia tende a originar povoamentos muito densos impedindo o desenvolvimento da vegetação nativa. Além disso, produz folhagem rica em azoto, promovendo a alteração dos solos.
A técnica de descasque de uma parte do tronco até à base da raíz é muito eficaz para secar esta espécie. Se o descasque for bem feito, mata a árvore sem necessidade de aplicação de herbicidas e sem rebentos de touça ou raiz. Como consequência, a árvore irá apodrecer lentamente, servindo de habitat a outras espécies, nomeadamente fungos, que são a base da alimentação do escaravelho endémico da Ilha das Flores. Após o controlo de invasoras procedeu-se à plantação de espécies endémicas.
Esta iniciativa contou com a colaboração da Câmara Municipal das Lajes, Junta de Freguesia das Lajes e a empresa de animação turística Experience OC, dando o exemplo de responsabilidade ambiental. É preciso que a Ilha e o turismo criem valor mais do que riqueza e a protecção do nosso património natural é a melhor forma de o conseguirmos.
Parabéns a todos os voluntários envolvidos nesta operação e também à RTP Açores que fez a cobertura do evento.
Florentina, nascida em 1979. Licenciada em Radiologia pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (2002). Mestre em Intervenção Sócio-Organizacional na Saúde pela Universidade de Évora (2006). Licenciada em Estudos Europeus e Política Internacional pela Universidade dos Açores (2012). Coleccionadora da História e estórias dos Açores. Activista ambiental. Fez parte da direcção da Quercus - Núcleo de São Miguel entre 2008 e 2015. É autora de alguns textos avulsos publicados.
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